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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em foto de maio de 2024.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.| Foto: Raphael Ribeiro/BCB

A divulgação, na manhã desta terça-feira, da ata da última reunião do Copom tranquilizou o mercado financeiro em relação à divergência vista na decisão de reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual. O fato de todos os quatro diretores favoráveis a um corte de 0,5 ponto terem sido indicados por Lula havia alimentado o temor de uma possível leniência em relação à inflação e uma postura mais política que técnica, de modo a agradar o governo federal, que constantemente ataca o Banco Central e defende uma redução mais drástica dos juros. O que a ata mostrou, no entanto, é uma concordância ampla dentro do colegiado sobre o cenário preocupante que se desenha, enquanto a divergência se deu mais por questões ligadas à estratégia de comunicação e à credibilidade do BC e do Copom.

É nas partes da ata intituladas “Discussão sobre a condução da política monetária” e “Decisão de política monetária” que estão expostos os argumentos tanto do quarteto defensor do corte de 0,5 ponto quanto da maioria que definiu a redução de 0,25 ponto porcentual na Selic. A minoria reafirmou seu compromisso com a meta de inflação e concordou com a necessidade de uma política monetária contracionista, mas argumentou que seria melhor seguir a sinalização dada no comunicado e na ata da reunião anterior, de março, que antecipava um novo corte de 0,5 ponto. O preço de não cumprir o que havia sido anunciado, segundo este grupo, seria um “custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do comitê”. Uma redução de meio ponto, completaram esses diretores, não representaria nenhum tipo de leniência com a inflação ainda acima da meta, e manteria a política monetária no terreno contracionista.

A ata não só afasta os temores de uma “tombinização” do Banco Central como também envia um recado a Lula e sua equipe econômica

A maioria, no entanto, argumentou que o forward guidance trazia consigo uma condição, explicitada na expressão “em se confirmando o cenário esperado”. Como o tal “cenário esperado” não se confirmou, especialmente depois que o governo federal enviou ao Congresso Nacional a mudança na meta de resultado primário para o ano que vem, a promessa de redução de 0,5 ponto já não seria vinculante. De acordo com o grupo que acabou prevalecendo na discussão, muito pior que pagar um preço “reputacional” de não entregar o que fora prometido – até porque as condições para que isso acontecesse já não existiam – seria o “risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas”. A percepção de que o BC e o Copom estariam perdendo a mão no sentido da leniência, portanto, seria mais grave que a possível crítica por um corte inferior ao previamente anunciado – além disso, boa parte do mercado financeiro já tinha passado a considerar plausível um corte de 0,25 ponto depois da mudança da meta de resultado primário para 2025.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentando a ata, minimizou as divergências, afirmando que “eram duas posições técnicas, respeitáveis”. O que ele não afirmou é que os trechos que refletem a posição unânime do Copom não são nada bons para o governo. Mesmo os membros indicados por Lula reconhecem que os últimos movimentos do Planalto e da Fazenda não ajudaram em nada o esforço de preservação do valor da moeda; a ata afirma, por exemplo, que “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”, e lista “os recentes anúncios de política fiscal” entre os “possíveis motivos da recente desancoragem das expectativas de inflação”.

Esta ata, portanto, não só afasta os temores de uma “tombinização” do Banco Central como também envia um recado a Lula e sua equipe econômica. Foi sintomático o fato de o Copom não ter se comprometido com nenhum tipo de sinalização sobre a próxima reunião, em junho – esta, sim, uma decisão unânime –, preferindo aguardar um “novo conjunto de informação” para “calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada”. Os diretores do BC usaram uma linguagem bastante firme sobre o compromisso de ancorar as expectativas de inflação e trazê-la para a meta, e disseram que isso depende do “contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”. Resta saber se o presidente e seus ministros entenderão a mensagem.

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