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O atual ciclo de alta da Selic começou em março deste ano, quando a taxa subiu de 2% para 2,75% ao ano.
O atual ciclo de alta da Selic começou em março deste ano, quando a taxa subiu de 2% para 2,75% ao ano.| Foto: Antonio Cruz

Em sua última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central surpreendeu não pela alta da Selic, que veio na medida esperada pelo mercado, mas pela linguagem mais forte que a dos comunicados anteriores para justificar a elevação e antecipar movimentos futuros. A taxa básica de juros subiu 1,5 ponto porcentual pela segunda vez seguida e terminará o ano em 9,25% – algo impensável no início de 2021, quando o primeiro Boletim Focus de janeiro registrou que a expectativa do mercado era chegar a este fim de ano com a Selic em meros 3,25%, apesar de, à época, já haver sinais de que a inflação estava reaparecendo com força.

Se no comunicado de 27 de outubro, quando a Selic subiu para 7,75% ao ano, o Copom falava de “deterioração no balanço de riscos” e dizia ser “apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista”, desta vez o comitê acrescentou uma palavra fundamental ao afirmar ser “apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista”. Além disso, afirmou que o perigo não está apenas na inflação de 2021, que já é caso perdido, mas também no futuro, quando menciona o “risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos”. De antemão, assim como fizera em outubro, o Copom prometeu nova elevação de 1,5 ponto na próxima reunião, já no início de 2022, e garantiu que a estratégia de elevar os juros será mantida até que a inflação volte a patamares aceitáveis e haja “a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.

O BC está sozinho no trabalho de puxar a inflação para baixo, já que Executivo e Legislativo estão empenhados em aumentar a despesa pública, e não em realizar ajustes

A inflação é fenômeno mundial – as economias desenvolvidas também estão experimentando surtos inflacionários, em alguns casos com características parecidas às da inflação brasileira, como reajustes nos preços de energia, especialmente com a aproximação do inverno no Hemisfério Norte. A disrupção nas cadeias produtivas e no fornecimento de insumos é global, e levará tempo para que haja uma normalização entre uma oferta prejudicada e uma demanda que estava reprimida durante a pandemia e que voltou a crescer. Uma possibilidade menos pessimista a surgir no horizonte diz respeito à própria Covid-19 – se por um lado países europeus vivem novos surtos da doença, as informações preliminares colhidas até agora a respeito da nova variante ômicron indicam que ela pode não ser tão agressiva quanto as demais formas do Sars-CoV-2, ainda que possa ser mais transmissível.

No entanto, não há como ignorar que os problemas globais são potencializados por questões exclusivamente brasileiras. O câmbio joga a favor da inflação local – em 2020, o real já tinha sido a sexta moeda com maior desvalorização diante do dólar, segundo dados da Austin Ratings; até o fim de outubro deste ano, de acordo com a mesma instituição, era a 14.ª moeda que mais perdeu valor em 2021, entre um pacote de 120 moedas. E a desvalorização do real não tem relação apenas com uma natural fuga de investimentos em direção a países mais “seguros” em tempos de incerteza, mas também com medidas que colocam em dúvida a saúde fiscal do Brasil, especialmente o descontrole no gasto público e a ausência de reformas macroeconômicas significativas tanto em 2020 quanto em 2021.

E aqui pode estar uma das causas do discurso mais agressivo do Copom: cada vez mais fica evidente que o BC está sozinho no trabalho de puxar a inflação para baixo, já que Executivo e Legislativo estão empenhados em aumentar a despesa pública, e não em realizar ajustes. Sem ajuda do Planalto e do Congresso, resta apenas subir os juros, com todas as consequências que isso traz para a economia real, como crédito mais caro, com desestímulo ao investimento e consequente desaceleração da economia.

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