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| Foto: Nelson Almeida/AFP

Bolsonaro foge dos debates”, dizem em coro os petistas, liderados pelo seu candidato, Fernando Haddad, o preposto do ex-presidente e atual presidiário Lula. O candidato do PSL, que havia participado de debates até sofrer o atentado contra sua vida no início de setembro, ainda se recupera da facada que levou e que o obriga a usar uma bolsa de colostomia, que só deverá ser retirada, na melhor das hipóteses, no meio de dezembro. Assim, perdeu todos os debates da reta final do primeiro turno e também deixou de participar de três encontros programados por canais de televisão neste segundo turno.

Cobrar que Bolsonaro estivesse nos debates mesmo sem o aval de sua equipe médica – que ainda não o havia liberado para esse tipo de evento – e criticá-lo pela sua ausência é bem característico da maneira como o petismo trata seus adversários. Mas a avaliação médica feita na última quinta-feira, dia 18, deixou os petistas salivando. Isso porque os médicos de Bolsonaro afirmaram que a melhora no estado de saúde do candidato já tornaria possível sua participação em debates, com a ressalva de que “ainda permanece como fator limitante relativo a presença da colostomia”. Mas, agora, a decisão de se abster do embate com Fernando Haddad foi do próprio Bolsonaro. O candidato disse à TV Globo que fez essa escolha motivado por seu estado de saúde: “[participar do debate] poderia ter uma consequência péssima para minha saúde. Então, levando-se em conta a restrição, levando-se em conta a minha saúde e a gravidade do que ocorreu, a tendência minha é não participar do debate”. O presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, acrescentou que “essa situação da colostomia é muito complicada e impede que ele seja submetido a estresse. Ele não tem obrigação de comparecer. É uma decisão não comparecer”. Com isso, Bolsonaro deixaria de ir a um debate marcado para a noite deste domingo e outro, na sexta-feira anterior ao segundo turno.

O petismo não tem as mínimas condições morais de exigir que Bolsonaro vá ao debate

Era tudo que o petismo queria para endurecer as críticas, como se Bolsonaro já estivesse em plenas condições físicas e só se esquivasse dos debates por puro capricho. Podemos deixar de lado os detalhes constrangedores que envolvem a obrigação de se portar uma bolsa de colostomia para cima e para baixo; só quem já precisou usar algo assim sabe do desconforto e da dor que isso pode causar, ainda que se tenha condições físicas de executar atividades cotidianas (por muito menos, uma crise de rinite, Haddad ficou afastado da prefeitura de São Paulo por uma semana em 2015). Não há dúvida nenhuma de que a democracia ganha com a oportunidade de os candidatos estarem frente a frente em um debate. Mas, no estado atual, e apesar de sua melhora, Bolsonaro ainda teria de fazer um enorme sacrifício para participar de um debate. Seria meritório se o fizesse; mas não é demeritório deixar de fazê-lo.

Além disso, pelo seu passado e pelo seu presente, o petismo não tem as mínimas condições morais de fazer exigências desse sentido a Bolsonaro e a criticá-lo por optar pela ausência. Em 2006, o mestre e senhor de Haddad também deixou de participar de debates. Três horas e meia antes do início do evento da Rede Globo, o último antes do primeiro turno, Lula cancelou sua ida ao estúdio. Em carta à emissora, alegou que “não posso render-me à ação premeditada e articulada de alguns adversários que pretendiam transformar o debate desta noite em uma arena de grosserias e agressões, em um jogo de cartas marcadas”. Bolsonaro bem poderia alegar algo parecido, a julgar pelo tom da campanha do PT.

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E isso nos traz ao presente. Quem primeiro quis fazer do atual processo eleitoral uma brincadeira de mau gosto foi o próprio petismo. Logo no início do ano, quando Lula foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, os petistas lançaram o slogan “eleição sem Lula é fraude”, debochando ao mesmo tempo da Lei da Ficha Limpa e do Poder Judiciário. Apesar de todas as advertências vindas dos próprios ministros do TSE sobre a impossibilidade da candidatura de um ficha-suja, o partido armou um circo para registrar a chapa encabeçada por seu líder, àquela altura já preso em Curitiba, e foi buscar uma “decisão” de um comitê da ONU, sem nenhum poder vinculante sobre o Brasil, para criar ainda mais confusão. O TSE tirou o nome e a foto de Lula da urna eletrônica, mas ele continuou se comportando como o candidato de facto, transformando sua prisão em escritório de campanha, articulando alianças, isolando adversários e passando orientações a seu poste toda segunda-feira, prática que só terminou quando Lula percebeu que as visitas semanais não estavam ajudando Haddad a conquistar os votos dos não petistas neste segundo turno. Um partido que se porta dessa maneira ao longo de todo esse tempo não merece ser respeitado como interlocutor digno, e não tem o direito de esperar esse reconhecimento.

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