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Editorial

Brasil se rebaixa em cúpula esvaziada dos Brics

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Chefes de Estado e outros representantes dos países-membros dos Brics, durante reunião de cúpula no Rio de Janeiro. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

O Brasil recebeu uma versão bastante esvaziada dos Brics na reunião de cúpula do bloco, realizada nos dias 6 e 7, no Rio de Janeiro. Os líderes máximos de dois dos quatro países fundadores do grupo não vieram: o ditador russo, Vladimir Putin, participou por vídeo, devido à possibilidade de acabar preso caso pousasse no Brasil, já que há contra ele um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI); o ditador chinês, Xi Jinping, deixou de participar de uma cúpula dos Brics pela primeira vez, e não informou os motivos da ausência. Entre os membros mais recentes, o Irã também não mandou o presidente Masoud Pezeshkian. Com tantas ausências importantes, a foto de família pode não ter saído como Lula gostaria, mas a Declaração de Líderes, publicada ainda no domingo, mostra que o Brasil lulista abraçou com gosto a defesa do há de pior atualmente no mundo.

O texto, com 126 pontos, traz vários trechos já previsíveis sobre todo tipo de cooperação entre os membros, além de demandas requentadas, como uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU para Brasil e Índia – um trecho que não encontrou consenso entre todos os membros, deixando a África do Sul de lado e mencionando apenas o apoio de Rússia e China. O que chama mais a atenção, no entanto, são as referências aos grandes conflitos geopolíticos e militares da atualidade, e nos quais os membros dos Brics estão envolvidos – costumeiramente, do lado errado da história.

Lula escolheu alinhar-se incondicionalmente a valentões expansionistas, ditaduras sem o menor respeito pelos direitos humanos, e financiadores do terrorismo internacional

Veja-se, por exemplo, os trechos referentes à guerra na Ucrânia. O item 35 da declaração condena “nos termos mais fortes os ataques contra pontes e infraestrutura ferroviária” realizados pelos ucranianos no fim de maio e início de junho, e que de fato causaram vítimas civis, incluindo crianças. No entanto, é de uma enorme hipocrisia destacar uma ação ucraniana quando a Rússia recorre constantemente aos ataques a áreas civis, fazendo deles uma estratégia para aterrorizar e subjugar a nação ucraniana. Evidentemente, não há nenhuma menção ao fato de a guerra ter começado devido a uma invasão unilateral russa, e nem aos crimes de guerra cometidos por Putin; a exortação à paz, citada no item 22, se dá nos termos propostos pelo autoproclamado “Grupo de Amigos pela Paz”, que pretende uma Ucrânia subjugada; e o item 14, que condena genericamente a imposição de sanções econômicas, não passa de defesa da Rússia, a principal afetada hoje por esse tipo de medida.

Os ataques ao programa nuclear iraniano também foram mencionados, no item 21, no qual os membros dos Brics condenaram os “ataques deliberados contra infraestruturas civis e instalações nucleares pacíficas”. Uma falsidade dupla, pois tanto Israel quanto Estados Unidos miraram apenas alvos militares – quem atacou áreas povoadas por civis foi o Irã, em sua retaliação contra os israelenses –, e o programa nuclear iraniano estava muito longe de ter fins pacíficos, a julgar pelos níveis de enriquecimento de urânio observados pela Agência Internacional de Energia Atômica. De positivo – ou talvez fosse melhor falar em “surpreendente” –, há apenas o fato de a declaração não ter usado o termo “genocídio” para falar da campanha israelense em Gaza (embora Lula tenha usado essa palavra em seu discurso no domingo), e de mencionar “a importância de unificar a Cisjordânia e a Faixa de Gaza sob a Autoridade Palestina”, o que excluiria o Hamas, um dos tentáculos do regime iraniano contra Israel.

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Nesta toada, os Brics podem até reunir 40% da população global, e quase a mesma proporção do PIB mundial, mas seguirão sendo pouco levados a sério na comunidade internacional. Um clubinho ideológico formado por ditadores e aliados (para não dizer “capachos”) empenhados em defender-se mutuamente enquanto espalham instabilidade global tem pouco a acrescentar quando se trata de enfrentar os grandes desafios da contemporaneidade, como a promoção da paz, a construção da democracia, a proteção das garantias individuais e o fomento da liberdade econômica e comercial.

Pior ainda para o Brasil, que não é uma superpotência militar (como a Rússia) ou econômica (como a China), e cuja reputação internacional depende ainda mais de fazer as escolhas certas. Tendo a chance de se colocar ao lado das democracias ocidentais, Lula, seu chanceler de facto Celso Amorim e o PT recusam essa oportunidade, sacrificando o respeito conquistado décadas atrás pela diplomacia brasileira no altar de um antiamericanismo jurássico, disfarçado de promoção do “Sul Global”. E o fazem, ainda por cima, alinhando-se incondicionalmente a valentões expansionistas, ditaduras sem o menor respeito pelos direitos humanos, e financiadores do terrorismo internacional, jogando na lama o nome do Brasil.

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