A greve nacional dos bancários, que entrou ontem em seu segundo dia, está prejudicando diretamente milhões de brasileiros, pessoas físicas e jurídicas, que dependem dos serviços de instituições financeiras para administrarem suas vidas e negócios. A extensão do movimento afetava até ontem pelo menos 4 mil agências de capitais e de inúmeras cidades do interior, quase 20% das 19,8 mil existentes em todo o país. As assembleias decretaram paralisações "por tempo indeterminado".
Em campanha salarial, os bancários decidiram ir à greve por terem rejeitado a oferta da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) de reajuste salarial de 4,29%. Essa proposta de aumento, segundo eles, somente repõe a inflação acumulada em 12 meses até agosto. Com data-base em 1.º de setembro, os bancários querem reajuste salarial de 11%, o que representa 5% de aumento real, além da reposição da inflação. Pedem ainda prêmio de Participação nos Lucros ou Resultados (PLR), equivalente a três salários e mais R$ 4 mil e o fim das "metas abusivas", entre outras reivindicações.
Ontem, milhares de agências em todo o país amanheceram com as portas fechadas e cheias de cartazes e faixas alusivas à paralisação. Em Curitiba, não foi diferente. Pelo menos duas pessoas destacadas pelo sindicato da categoria, os chamados piqueteiros, vigiavam as agências para impedir a eventual entrada de clientes para além da porta detectora de metais. Durante o dia, houve várias denúncias de que, na porta dos bancos, pessoas possivelmente contratadas para os piquetes intimidavam clientes que tentavam entrar nas agências para pagar suas contas.
Esse é um movimento que vem se repetindo todos os anos. A intransigência entre patrões e empregados nas negociações tem sido uma constante. O resultado mais comum do impasse é a greve. O maior prejudicado desse processo é o consumidor. Com a greve e os piquetes, os usuários dos serviços bancários estão tendo de enfrentar enormes filas para utilizar os poucos caixas automáticos que estão em funcionamento.
E o mais grave: serão obrigados a arcar com multas, juros e outros encargos se não conseguirem cumprir seus compromissos financeiros nas datas de vencimentos das contas. Além disso, a greve ocorre justamente no início do mês, período em que as agências recebem maior afluxo de público, devido ao pagamento dos 27 milhões de aposentados e pensionistas do INSS que recebem o benéfico pela rede bancária.
Fica evidente que tanto a federação dos bancos como os sindicatos dos trabalhadores só pensam nos seus interesses particularistas e não se importam com a população, que, na verdade, ironicamente, é o sustentáculo do setor. Na prática, dizem: "Cidadão, trate de se virar para pagar suas contas". Mesmo tendo de encarar leões de chácara nas portas das agências, perder tempo nas filas, se socorrer em correios e lotéricas, também superlotados, se não quiser pagar multa ou juros ou ver seu nome enviado aos serviços de proteção ao crédito, por ser "mau pagador"!
É uma situação humilhante para a população. Esta greve dos bancários, a exemplo das recentes paralisações de outros setores vitais da economia ou de serviços públicos como Correios, Previdência Social e Ministério do Trabalho, são abusivas e ferem os direitos essenciais do cidadão. Embora assegurado pela Constituição, o direito de greve das categorias dos setores privado ou público perde a sua legitimidade quando flagela e prejudica a população. É neste ponto, justamente, que a lei precisa mudar. Afinal, a real finalidade da lei não é proteger o cidadão?



