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A missão de levar o Brasil a uma colheita generosa de medalhas daqui a quatro anos parece simples quando comparada à tarefa de organizar os Jogos Olímpicos de forma competente

Como o mundo inteiro viu ontem, na festa de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, o próximo encontro da elite do esporte mundial está marcado para o Rio de Janeiro, em 2016. Agora, cada país, com seu comitê olímpico, avalia o desempenho de seus atletas e começa a trabalhar para o próximo ciclo de quatro anos; para os brasileiros, porém, a preocupação é dupla: não apenas descobrir como conquistar mais medalhas, mas também organizar os Jogos de maneira condizente com a importância do evento.

Para os atletas, a tarefa já é árdua. À exceção de ilhas de excelência, como o voleibol e o judô, o esporte olímpico, no Brasil, é vítima de uma série de fatores que prejudicam seu desenvolvimento: investimentos escassos; confederações conduzidas como se fossem feudos pessoais, com dirigentes que se eternizam nos cargos, não exatamente por seus méritos esportivos; a pouca divulgação nos meios de comunicação; e a falta de interesse da população em geral, já que, com o futebol monopolizando as paixões, a maioria dos brasileiros só volta sua atenção ao esporte olímpico uma vez a cada quatro anos.

No entanto, a missão de levar o Brasil a uma colheita generosa de medalhas em 2016 parece simples quando comparada à tarefa de organizar os Jogos Olímpicos de forma competente. Basta olhar os Jogos Pan-Americanos de 2007, considerados um trunfo do país em sua candidatura olímpica, para acumular motivos de preocupação. O orçamento inicial do Pan, em 2002, era de R$ 409 milhões; terminou nove vezes maior. Estouros não são exclusividades do Brasil – as contas do Pan de Guadalajara, em 2011, e dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, também escaparam do controle; o orçamento de Londres-2012 quase quadruplicou em relação ao previsto –, mas no caso do Pan de 2007 houve indícios de superfaturamento e desvios, apesar de o Tribunal de Contas da União não ter encontrado motivos para punir os organizadores.

Durante o Pan, ainda ficaram patentes outros problemas, como instalações inacabadas ou precárias (os torneios de beisebol e softbol tiveram de ser encurtados); falta do domínio de idiomas por parte de prestadores de serviços, um problema minimizado em 2007 pelo fato de a maioria dos espectadores ser de brasileiros, mas que será crônico daqui a quatro anos; e a construção de locais de competição "de porte olímpico" que acabarão subaproveitados em 2016, como o Parque Aquático Maria Lenk – segundo o plano olímpico, a instalação de R$ 85 milhões servirá apenas para os saltos ornamentais e o polo aquático, já que para a natação está prevista a construção de outra arena. O projeto de erguer o Parque Olímpico em Jacarepaguá, no local onde hoje está o autódromo carioca, esbarra em duas questões herdadas do Pan: a construção de um novo circuito e a realocação dos moradores de uma favela próxima.

Em junho, uma equipe do Comitê Olímpico Internacional esteve no Rio de Janeiro e, no fim do mês passado, o COI pediu mais rigor por parte dos brasileiros em relação à organização. No fundo, era a mesma mensagem do secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, que em março afirmou que o Brasil precisava de um "chute no traseiro" para que cumpra os compromissos assumidos para a Copa de 2014. A indignação popular ofuscou o fato de que, por mais deselegantes que tenham sido as palavras de Valcke, existe a percepção generalizada de que as obras estão, sim, muito atrasadas. A melhor resposta que o Brasil pode dar, nesses casos, não é um surto de nacionalismo exacerbado hostil à Fifa ou ao COI, mas a realização dos grandes eventos esportivos de forma competente, com instalações e infraestrutura em ordem, e sem corrupção e desperdício.

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