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Editorial

Entre gastança interna e tarifaços, Copom escolhe a prudência

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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante evento comemorativo dos 60 anos do BC, em abril de 2025. (Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central do Brasil)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu nesta semana a sequência de sete elevações seguidas da taxa Selic e, na reunião encerrada na quarta-feira, decidiu de forma unânime pela manutenção dos juros no seu patamar atual, de 15% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado financeiro, e no comunicado emitido após o encerramento do encontro os diretores do BC justificaram sua opção alegando o crescimento das incertezas, principalmente no campo externo.

Internamente, nada mudou. O governo federal venceu no tapetão sua batalha para conseguir algumas dezenas de bilhões de reais por meio da elevação das alíquotas de IOF, e logo na sequência já reverteu o contingenciamento de cerca de R$ 20 bilhões. Em outras palavras, o plano continua a ser o de sempre: elevar os gastos e cobrir os rombos com mais e mais arrecadação, enquanto os contribuintes e o setor produtivo aguentarem sem reclamar demais. A política fiscal expansionista, como o Banco Central cansou de explicar, força uma política monetária contracionista para que a inflação não escape totalmente do controle – e mesmo assim as projeções para o IPCA, embora estejam em tendência de queda, ainda estão bem acima da meta de inflação, que é de 3%, com 1,5 ponto de tolerância para mais ou para menos. E, a julgar pelo comunicado, só em 2027 a inflação voltará a se aproximar da meta – até porque 2026 é ano eleitoral, a época em que “podemos fazer o diabo”, nas palavras célebres de Dilma Rousseff.

Não há como prever absolutamente nada nas próximas semanas, o que reforça a postura de prudência do Copom

Sem novidades no campo interno, o Copom mencionou explicitamente o caos no comércio exterior causado pelo tarifaço de Donald Trump – a imposição de tarifas de 50% a produtos brasileiros foi citada como fonte de incerteza. Até existe a possibilidade de produtos como café e carne ficarem mais baratos no Brasil no curto prazo, caso a quantidade que deixe de ser exportada para os EUA seja redirecionada ao mercado interno, elevando a oferta; mas os produtores tendem a ajustar a produção no médio prazo, anulando a deflação inicial. Além disso, eventuais retaliações brasileiras podem encarecer itens importados dos Estados Unidos, criando pressão inflacionária. Por outro lado, o Copom menciona “uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio” como um fator que pode puxar a inflação para baixo. Em resumo, não há como prever absolutamente nada nas próximas semanas, o que reforça a postura de prudência do Copom.

Diante disso, até mesmo o “forward guidance” veio menos assertivo desta vez. O Copom afirma que, se não houver nenhuma grande mudança no cenário, haverá “uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado” – o comitê ainda tem três reuniões a realizar neste ano. Mesmo havendo quem fale em redução nos juros a partir do primeiro semestre de 2026, não há nenhuma indicação a esse respeito no comunicado; pelo contrário, menciona-se apenas que o Banco Central “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste” caso necessário.

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A tarefa não é simples; a economia continua aquecida, o que se reflete em indicadores como o desemprego baixo, e massa salarial e rendimento médio em alta – números que são música para o governo e o incentivam a manter a estratégia de fazer a economia girar por meio do estímulo máximo ao consumo. O Brasil já viu essa história: antes da crise de 2015-16, esses indicadores também eram bons, e a razão também estava em políticas de fomento ao consumo. Naquela ocasião, havia uma agravante: o Banco Central, comandado por Alexandre Tombini, manteve os juros artificialmente baixos, agravando os fatores que levariam à recessão. Este é o erro que o BC não pode repetir.

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