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Editorial

Copom mantém Selic, mas alivia para o maior responsável pelos juros altos

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Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, durante evento em setembro de 2025. (Foto: Alexandre Boiczar/Banco Central)

O mercado financeiro já esperava a decisão de quarta-feira do Comitê de Polícia Monetária (Copom) do Banco Central, que manteve a taxa Selic nos atuais 15%. O governo cobrava uma queda e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que, se fosse membro do colegiado, votaria para baixar os juros. Saíram todos frustrados, mas com um pequeno prêmio de consolação: no comunicado em que expõe a decisão tomada e resume os principais argumentos para a escolha, o Copom foi quase lacônico em relação ao principal responsável pela chamada “desancoragem das expectativas de inflação”, que por sua vez leva o comitê a adotar uma política monetária contracionista.

Fatores externos, como o “tarifaço” de Donald Trump; o mercado de trabalho ainda aquecido, com o desemprego se mantendo estável em níveis considerados de pleno emprego por vários economistas; e as tais “expectativas desancoradas”, significando que os agentes do mercado financeiro não veem a inflação convergindo para a meta num futuro próximo – tudo isso ganhou mais destaque no comunicado do Copom que a política fiscal expansionista e irresponsável do governo. Por mais que associemos o termo “inflação” à alta dos preços, essa alta é consequência de uma expansão da base monetária sem uma elevação correspondente na produtividade ou na oferta de bens e serviços – exatamente o que acontece quando o governo resolve gastar como se não houvesse amanhã.

Se o BC precisa adotar uma política monetária contracionista, ele o faz muito mais por causa da política fiscal expansionista de Lula que devido a outros fatores

No entanto, a manutenção ou a intensificação da política fiscal expansionista não aparece entre os “riscos para a inflação” que o Copom menciona em todos os seus comunicados. O mais próximo que o comitê chega é a referência a “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado” – mas, quando resolve citar um exemplo, escolhe “uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”. A única menção direta à política fiscal é neutra: o Copom afirma que “segue acompanhando (...) como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros”.

Por mais que o Copom não seja dado a uma retórica inflamada em seus comunicados, e ainda que mais recente deles não seja tão diferente dos três anteriores, o comitê já foi um pouco mais enfático no passado. Em maio, afirmou que “a conjuntura doméstica, em particular a política fiscal, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes”; em abril, que “a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”; e, em novembro de 2024, que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros”.

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De lá para cá, o governo Lula não fez absolutamente nada que justificasse o fim desses alertas – pelo contrário, continua elevando gastos e arrumando exceções à âncora fiscal. Para se bancar, precisa se endividar ainda mais, oferecendo juros cada vez maiores a quem se disponha a emprestar seu dinheiro ao governo. Se o Banco Central precisa adotar uma política monetária contracionista, ele o faz muito mais por causa da política fiscal expansionista de Lula que devido a outros fatores, externos ou internos, mas a comunicação do Copom não tem ajudado a deixar isso claro. É verdade que a esquerda, com seu terraplanismo econômico, reclamaria da decisão do comitê ainda que os diretores do BC tivessem devidamente apontado a responsabilidade do governo no processo inflacionário; mas, como não o fizeram, deixam o flanco aberto para a habitual enxurrada de críticas descabidas vindas do populismo gastador petista.

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