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Brasil e Estados Unidos são países do mesmo continente, filhos do mesmo mundo ocidental, sócios de uma cultura comum e de uma aliança histórica que, apesar de momentos de tensão e divergência, jamais esteve perto de uma ruptura real. Essa estabilidade, no entanto, parece ter sido rompida nos últimos meses – e, lamentavelmente, com forte contribuição do próprio governo brasileiro liderado por Luiz Inácio Lula da Silva.
As relações políticas e econômicas entre Brasil e Estados Unidos talvez nunca tenham atingido um grau de deterioração tão grave quanto o observado neste primeiro semestre de 2025. Desde abril, quando Donald Trump anunciou tarifas sobre importações oriundas de mais de 160 países, até o anúncio mais recente – uma exorbitante taxação de 50% sobre produtos brasileiros –, a animosidade entre os dois países escalou perigosamente. E ao menos parte dessa tensão se deve à disposição do presidente Lula em manter um discurso hostil em relação ao governo americano.
Quando Lula ataca o dólar sem argumentos consistentes, coloca o Brasil ao lado de regimes totalitários, inimigos históricos dos EUA e grupos antiocidentais, como China, Irã, Cuba, Coreia do Norte e outros adversários do mundo livre. Isso tem custo – e ele começa a ser cobrado
Desde a candidatura de Donald Trump, Lula empenha-se em desconstruí-lo – quando não em atacá-lo abertamente. Em novembro do ano passado, declarou que a eleição de Trump representava “o nazismo e o fascismo voltando a funcionar com outra cara”, depois de já tê-lo chamado de “desumano”. É um comportamento incompatível com a liturgia do cargo e com os interesses diplomáticos de um chefe de Estado que pretenda manter relações minimamente respeitosas com outro líder democraticamente eleito. A hostilidade não se restringe a Trump: Lula também tem atacado aliados históricos dos Estados Unidos, como Israel, e chegou a posicionar-se a favor do Irã após o país persa ser alvo de um ataque americano – mesmo sabendo que Teerã está às portas de obter uma bomba atômica.
A cruzada antiamericana de Lula inclui ainda ataques ao dólar, base das transações internacionais. No último encontro dos BRICS, Lula defendeu a abolição do dólar como moeda padrão do comércio global, alegando – de forma equivocada – que “ninguém determinou” essa função à moeda americana. A declaração foi amplamente interpretada como um gesto político, e possivelmente funcionou como o estopim para a taxação de 50% imposta por Trump.
O ex-presidente americano já havia alertado que aplicaria tarifas adicionais a qualquer país que se alinhasse às políticas “antiamericanas” do BRICS – mencionando diretamente a proposta, capitaneada por Lula, de substituir o dólar como referência do comércio internacional. Lula respondeu com mais bravata, acusando Trump de agir como “imperador” e reclamando de suas “ameaças”.
Cabe lembrar que a adoção do dólar como moeda padrão não foi fruto de imposição ou acaso. O sistema atual foi definido na Conferência de Bretton Woods, em 1944, substituindo o padrão-ouro. À época, mais de 40 países – a maioria democracias estáveis – firmaram acordo em torno do dólar por razões objetivas: solidez econômica, estabilidade monetária, previsibilidade institucional e segurança jurídica dos Estados Unidos.
Questionar esse arranjo sem apresentar alternativa tecnicamente viável, sem argumentos convincentes que justifiquem a adoção de uma nova moeda no lugar do dólar, não é ousadia diplomática, mas irresponsabilidade. Quando Lula ataca o dólar sem argumentos consistentes, coloca o Brasil ao lado de regimes totalitários, inimigos históricos dos EUA e grupos antiocidentais, como China, Irã, Cuba, Coreia do Norte e outros adversários do mundo livre. Isso tem custo – e ele começa a ser cobrado.
Em meio a um cenário de disputa tarifária com os Estados Unidos, onde o Brasil precisa se posicionar com firmeza em defesa dos interesses do país, sem subserviência de qualquer espécie, mas ao mesmo tempo evitando confrontos infrutíferos, não há lugar para bravatas ou apegos ideológicos. O Brasil pode e deve defender seus interesses, mas para isso precisa de prudência, estratégia e respeito – resta saber se ainda há espaço para essas virtudes na política externa de Lula.



