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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Apesar dos diversos indicadores econômicos positivos de 2017, como a queda da inflação e dos juros, o número que reflete de maneira mais dramática as consequências da irresponsabilidade praticada pelos executores da “nova matriz econômica” continua a preocupar. Os números do emprego costumam ser os últimos a melhorar em um cenário de recuperação econômica, e o Brasil parecia ter engatado uma trajetória de alta, ainda que tímidas, na geração de empregos medida pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Mas os números de novembro, que revelaram o fechamento de 12,3 mil vagas de trabalho com carteira assinada, foram frustrantes, especialmente pelo fato de interromper sete meses seguidos de saldo positivo em um mês no qual normalmente há mais contratações que demissões – desde que o Caged começou, em 2002, apenas quatro novembros tinham registrado números negativos (2002, 2008, 2015 e 2016).

O então ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira (que pediu demissão no mesmo dia da divulgação dos números do Caged, para disputar as eleições de 2018), argumentou que o resultado se devia à indústria, que normalmente faz desligamentos em novembro por já ter atendido todas as encomendas de fim de ano. Isso, obviamente, contrasta com o fato de o mês normalmente registrar resultado positivo na geração de empregos. Ainda que seja realmente esta a dinâmica da indústria, Nogueira teria feito melhor em apontar um dado mais preocupante: com exceção do comércio (também movido pelo consumo de fim de ano), todos os setores tiveram mais demissões que contratações – até mesmo o agronegócio, que tanto tem feito pela economia nacional durante a crise e neste início de recuperação.

É precipitado associar a queda no emprego em novembro à reforma trabalhista

Os números de novembro do Caged devem preocupar e servem de alerta: a recuperação do emprego, que pensávamos ter entrado em uma rota mais consistente, ainda vacila. E, diante disso, não há outra solução a não ser insistir nas reformas: a tributária, que tornará mais racional o pagamento de impostos e pode desonerar a folha de pagamento; e a da Previdência, necessária para que o setor público tenha a chance de ajeitar suas contas, condição imprescindível para a manutenção (ou até mesmo novas quedas) da Selic. Juros baixos são um incentivo para que os empresários retomem os investimentos em equipamento e pessoal, com impacto positivo na geração de empregos.

Mas foi uma outra reforma a “estrela” da divulgação dos números do Caged de novembro: a trabalhista. Não faltaram associações, diretas ou indiretas, a um suposto impacto das novas regras nos números do emprego; muitas dessas associações são exemplos, intencionais ou não, da falácia conhecida pelo termo latino post hoc, ergo propter hoc, que mistura antecedência e causalidade. Em outras palavras: se a queda no emprego ocorreu depois da reforma trabalhista, só pode ter sido esta o motivo daquela. Uma conclusão um tanto precipitada, até porque ainda há incerteza sobre diversos pontos da reforma, graças à mobilização de certos setores dentro da Justiça do Trabalho. O real impacto da reforma trabalhista só terá como ser medido no médio prazo, e à medida que as controvérsias jurídicas a seu respeito forem resolvidas.

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As consequências do desemprego para as famílias são tão brutais que ele é um dos dois indicadores escolhidos pelo economista Arthur Okun para compor seu “índice da miséria” (o outro indicador é a inflação), na década de 1970. Por isso, não se pode minimizar ou descartar os números do Caged de novembro recorrendo ao saldo bastante positivo ao longo de 2017, com a criação de quase 300 mil novos postos com carteira assinada. A superação do desemprego exige um esforço que ainda está apenas no começo.

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