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| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Na última sexta-feira, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgou os dados mais recentes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), referentes a 2017, sem números muito animadores para o Brasil. O país segue estacionado no 79.º lugar entre 189 nações avaliadas. Pior: a pontuação absoluta do Brasil variou apenas 0,001 ponto para cima, indo para 0,759 em uma escala que vai de zero a um (quanto maior o número, maior o desenvolvimento humano – a Noruega, primeira colocada, tem IDH de 0,953). O número é suficiente para que o país seja considerado de “alto” desenvolvimento humano, mas a realidade parece bem mais complicada – afinal, os números representam uma média daquilo que, mais de 40 anos atrás, convencionou-se chamar de “Belíndia” – uma nação desigual, com bolsões de prosperidade dignas dos países europeus mais prósperos em meio à pobreza generalizada.

Veja-se, por exemplo, os dados sobre educação. Praticamente não houve alteração em dois indicadores, a média de anos de estudo dos brasileiros com 25 anos ou mais (7,8 anos) e a expectativa de escolaridade das crianças que entram hoje no sistema escolar (15,4 anos). O primeiro número, é verdade, é bem mais difícil de ser alterado rapidamente, pois se trata de uma média que abarca toda a população adulta. Podemos olhar com esperança para o fato de a expectativa de escolaridade atual ser quase o dobro dessa média de anos de estudo, mas outros indicadores que o Pnud não avalia nos mostram que o desafio está não só em manter essas crianças na escola pelos 15,4 anos medidos, mas principalmente em fazer com que esses alunos saiam da escola devidamente capacitados – basta lembrar os dados do Saeb, do Ministério da Educação, que mostram as terríveis deficiências em leitura e Matemática apresentadas por quem sai do ensino médio.

As poucas conquistas que o Brasil obtém no IDH são distribuídas de forma bastante desigual

Os dados sobre saúde e renda apresentaram uma leve melhora – leve apenas o suficiente para o país não perder posições no ranking, é preciso dizer. A expectativa de vida do brasileiro ao nascer subiu para 75,7 anos em 2017, contra 75,5 no ano anterior. E a renda per capita teve uma elevação quase imperceptível, passando de US$ 13.730 para US$ 13.755, pelo critério de paridade do poder de compra. A mesma renda, em 2015, era de US$ 14.350. Foi naquele ano que explodiu de vez a crise econômica que vinha sendo lentamente gestada desde o segundo mandato Lula, com as políticas de irresponsabilidade fiscal que cobrariam seu preço após o estelionato eleitoral que reelegeu Dilma Rousseff. As consequências continuam a ser amargadas até hoje, com a recuperação econômica caminhando a passos muito lentos e permitindo que o petismo associe a estagnação dos números do IDH ao “Brasil do golpe”, como se as bases do descalabro não tivessem sido estabelecidas nos mandatos petistas.

Leia também: Nossa catástrofe educacional (editorial de 2 de setembro de 2018)

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Outro número divulgado pelo Pnud é o chamado “IDH ajustado à desigualdade”, que, segundo a própria ONU, “leva em consideração a desigualdade em todas as três dimensões do IDH ‘descontando’ o valor médio de cada dimensão de acordo com seu nível de desigualdade”, já que, “como todas as médias, o IDH mascara a desigualdade na distribuição do desenvolvimento humano entre a população no nível de país”. E o Brasil, apesar de ter no IDHAD uma posição ligeiramente melhor (76.º lugar) que no IDH tradicional, apresenta um índice medíocre, de 0,578, equivalente a um desenvolvimento “médio”, significando que as poucas conquistas que o Brasil obtém nesse campo são distribuídas de forma bastante desigual.

O país, então, se vê diante de um duplo desafio: garantir uma evolução nos indicadores para proporcionar uma vida melhor aos brasileiros, e que essa melhoria ocorra de forma mais igualitária, para que não fiquem restritas a um pequeno grupo – sem, no entanto, ceder a um populismo barato que enxerga na riqueza um problema em si. Saúde, educação e geração de emprego e renda estão na ponta da língua de todos os candidatos nas próximas eleições, mas é preciso ir além dos slogans e analisar quais são as propostas concretas daqueles que buscam cargos tanto no Executivo quanto no Legislativo. Que o brasileiro tenha a sabedoria para separar planos sensatos de delírios irrealizáveis criados sob medida para cativar o eleitor incauto.

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