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Editorial

Direita vence no Chile e não pode repetir os erros da esquerda

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José Antonio Kast e a esposa, María Pía, comemoram a vitória do conservador no segundo turno da eleição presidencial chilena. (Foto: Elvis González/EFE)

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Mantendo a “tradição” recente chilena, pela qual um presidente jamais passa a faixa a um sucessor do mesmo grupo político ou orientação ideológica, o conservador José Antonio Kast sucederá o esquerdista Gabriel Boric em 11 de março de 2026. Kast venceu o segundo turno contra a comunista Jeannette Jara, apoiada por Boric (as leis chilenas proíbem a reeleição para mandatos sucessivos), por 58% a 42% dos votos válidos. Agora, o grande desafio do novo presidente é não repetir os mesmos erros do antecessor: Boric foi o primeiro mandatário a romper a alternância entre centro-direita e centro-esquerda que marcou o Chile pós-Pinochet, e Kast representa a mesma tendência de afastamento do centro, mas na direção inversa.

Avisos a esse respeito não faltam. Em 2020, os chilenos decidiram, em plebiscito, que desejavam uma nova Constituição. A primeira tentativa, elaborada por uma assembleia majoritariamente de esquerda, entregou um texto que praticamente refundava o país em bases diferentes das atuais, e que foi rejeitado pela população de forma avassaladora, com 62% a 38% para o “não”. Na segunda tentativa, a composição da assembleia constituinte era radicalmente diversa: 23 das 50 cadeiras foram para o Partido Republicano, de Kast, com outras 11 para a centro-direita. A proposta oriunda dessa assembleia também foi rechaçada em referendo, desta vez por 55% a 45%, em um sinal de que os chilenos pretendiam uma nova carta magna mais equilibrada ideologicamente.

Gabriel Boric viu a vitória eleitoral de 2021 como carta branca para fazer o que bem entendesse, atropelando todos os que não lhe haviam dado voto, e pagou um preço caro por isso

Um segundo sinal vem da própria eleição. Jeannette Jara terminou o primeiro turno na liderança, com 27% dos votos válidos, mas isso só ocorreu porque ela foi a candidata unificada da centro-esquerda e da esquerda, enquanto a centro-direita e a direita apresentaram várias candidaturas. No entanto, seu desempenho em novembro esteve longe de ser seu teto: no último domingo, ela conseguiu aumentar sua votação em 15 pontos porcentuais, significando que pouco mais de um sétimo dos eleitores fora do campo da esquerda preferiu direcionar seu voto a Jara em vez de Kast.

O imediato pós-eleição foi marcado pelo arrefecimento de ânimos. Jara foi encontrar Kast pessoalmente após a divulgação do resultado, e ele pediu respeito aos apoiadores que vaiaram a candidata. “O respeito é essencial, porque se não o conquistarmos, a divisão continuará. Ela pode ter uma ideologia diferente, mas é uma pessoa como nós. Ela aceitou um desafio muito difícil e manteve-se fiel ao seu estilo até o fim”, afirmou o presidente eleito. Kast ainda estendeu uma mão ao economista Franco Parisi, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com importantes 20%, mas pregou o voto em branco no domingo. “Você [Parisi] não precisa concordar com todas as ideias, mas pode apresentar algo”, disse Kast.

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O Chile já tinha um dilema: como manter as políticas liberais que garantiram ao país um crescimento econômico expressivo, mas aperfeiçoando-as para proteger os cidadãos mais vulneráveis, que foram deixados para trás. Mais recentemente, a segurança pública assumiu protagonismo nas preocupações da população, com o aumento na taxa de homicídios e a entrada do crime organizado transnacional no país, especialmente por meio dos venezuelanos do Tren de Aragua. Cabe a Kast dar respostas a todos esses desafios sem cometer o erro de Boric, que viu a vitória eleitoral de 2021 como carta branca para fazer o que bem entendesse, atropelando todos os que não lhe haviam dado voto, e pagou um preço caro por isso.

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