É conhecida a opinião dominante entre os estudiosos de que as grandes guerras dos próximos séculos não se darão em razão de disputas político-ideológicas ou por territórios e nem mesmo por causa de petróleo. Os conflitos serão travados por água um bem natural absolutamente indispensável para a sobrevivência da humanidade, insubstituível e, infelizmente, cada vez mais escasso e caro. Potências não serão as nações que possuírem os maiores arsenais nucleares ou dominarem as mais sofisticadas tecnologias industriais mas aquelas que dispuserem e conservarem suas fontes de água própria para o consumo de suas populações.
É sob esta visão que se deve elogiar as iniciativas que visem à preservação dos recursos hídricos, como a que se desenvolve agora em Curitiba e região metropolitana por meio do reativado Comitê do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira objeto de reportagem que publicamos nesta edição à página 3. Sua missão será a de formular e aplicar medidas amplas visando a integral proteção dos mananciais locais. Uma das idéias em estudo é instituir a cobrança de adicionais dos grandes municípios consumidores de água e distribuir os recursos gerados entre os fornecedores.
Com tais recursos pretende-se financiar projetos de recuperação de mata ciliar e livrar as bacias hidrográficas de todos os demais fatores que hoje ameaçam a sua salubridade e existência. Dentre tais fatores, evidencia-se a precariedade das redes de coleta e tratamento de esgotos, que precisam ser urgentemente ampliadas dos atuais 35% para no mínimo 80% dos domicílios da região metropolitana.
As providências devem seguir no ritmo acelerado de uma verdadeira guerra. Atualmente, o consumo de água per capita na Grande Curitiba é de cerca de 150 litros por dia, mas as projeções mostram que esta quantidade tende a crescer para 220 litros até o ano de 2015. A este acréscimo de consumo individual, deve ser adicionado também o inevitável aumento da população na próxima década. A soma destes dois fatores é que desenha o quadro sombrio que temos pela frente a menos que se reduzam para parâmetros aceitáveis o atual índice de 40% de desperdício que se verifica atualmente no sistema.
Mas, embora importante, a simples redução do consumo não basta. É necessário, também, conter a acelerada degradação dos mananciais, hoje em grande parte comprometidos por ocupações ilegais, pela presença de indústrias poluidoras em áreas de preservação, pelo lançamento de dejetos orgânicos e industriais e por defensivos agrícolas. Políticas abrangentes de preservação dos recursos hídricos devem ser implementadas, de modo a assegurar a preservação dos mananciais e a manutenção das condições ambientais adequadas para a garantir a perenidade e a pureza das bacias hidrográficas.
Deve-se ver com otimismo, portanto, a disposição do Comitê do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira para coordenar esta tarefa, pois tratar a questão da água e do seu consumo de modo responsável e racional é zelar pelo bem-estar das futuras gerações, pela preservação ambiental e também pela paz.



