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 | Foto: Valdecir Galor/ SMCS/Fotos Públicas
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O presidente Michel Temer se animou tanto com os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que se antecipou ao Ministério do Trabalho e comemorou no Twitter, na véspera da divulgação oficial. As contratações superaram as demissões em 110 mil empregos com carteira assinada no mês de agosto – na rede social, Temer havia falado em “mais de 100 mil”, o que viu como sinal de que “o Brasil está no rumo certo. Em plena recuperação”, já que este é o melhor resultado para um mês de agosto desde 2013 e o segundo melhor de 2018, perdendo apenas para abril.

Os números do Caged, efetivamente, têm pontos a celebrar. Destaca-se, especialmente, o fato de os saldos terem sido positivos em todas as regiões brasileiras – apenas Acre, Sergipe, Maranhão, Espírito Santo e Rio Grande do Sul tiveram números negativos (o caso gaúcho é o mais grave, com 4 mil vagas perdidas). Da mesma forma, quase todos os setores da atividade econômica também geraram empregos. O ramo de serviços foi responsável por mais da metade do saldo geral de agosto, com 66 mil novos postos de trabalho, seguido pelo comércio (17,8 mil), indústria de transformação (15,7 mil) e construção civil (11,8 mil). A agropecuária foi o único setor onde houve mais demissões que contratações (3,3 mil), mas tem saldo positivo tanto em 2018 (87,5 mil) quanto no acumulado de 12 meses (6 mil).

Também pessoas que acabaram de ser demitidas estão entrando em situação de desalento

O Ministério do Trabalho ainda divulgou números referentes às novas modalidades de contratação introduzidas pela reforma trabalhista. Houve saldo positivo nos contratos de trabalho intermitente (4 mil empregos) e de regime de tempo parcial (3,1 mil). Também ocorreram 15 mil desligamentos por acordo entre empregado e empregador, em que este paga metade da multa rescisória e aquele pode sacar parte do saldo do Fundo de Garantia depositado em seu nome.

Mas um outro dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira mostra que o presidente pode ter exagerado um pouco na empolgação. A Pnad Contínua apontou o maior nível de desalento de toda a série histórica iniciada em 2012. O desalento é a situação de quem está desempregado e já desistiu de encontrar trabalho, independentemente do motivo. No trimestre encerrado em julho, esse foi o caso de 4,8 milhões de brasileiros. O estudo do IBGE aponta dinâmicas preocupantes: não são apenas aqueles que estão desempregados há mais tempo que estão desistindo de se recolocar, mas também pessoas que acabaram de ser demitidas estão entrando em situação de desalento. As taxas também têm crescido entre pessoas com nível médio e superior, e entre chefes de família, o que é um reflexo especialmente cruel da crise econômica em que o Brasil foi lançado há alguns anos pela irresponsabilidade lulopetista.

Leia também: As razões do desemprego (editorial de 1.º de maio de 2018)

Leia também: Desemprego 4.0 – não é pessimismo, é choque de realidade (artigo de Vinicius Maximiliano, publicado em 21 de dezembro de 2017)

Se o Brasil ainda tem cerca de 12 milhões de desempregados, e a indústria, para ficar em um exemplo, ainda tem uma capacidade ociosa considerável – os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria apontam para 68% de utilização da capacidade instalada em julho –, o país precisa se perguntar o que está ocorrendo. Os pesquisadores do IBGE responsáveis pela Pnad Contínua apontam para a lentidão da retomada do PIB e para a falta de qualificação da mão de obra brasileira, que tem de quatro a cinco anos a menos de escolaridade média na comparação com outros países. A formação recebida, ainda por cima, não está adequada ao que o mercado de trabalho pede, seja na indústria, seja no setor de serviços. Não basta que melhorem as condições para que as empresas possam gerar empregos, mas é preciso garantir que haja brasileiros qualificados para ocupar esses postos de trabalho.

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