
No próximo dia 15, um encontro que pode ser decisivo para a continuação ou o fim da guerra na Ucrânia ocorrerá no Alasca: o presidente norte-americano, Donald Trump, se reunirá pessoalmente com o ditador russo, Vladimir Putin, pela primeira vez após algumas trocas de telefonemas entre ambos e reuniões de ministros e assessores dos dois países. No entanto, há tantos motivos de preocupação quanto de esperança, graças à maneira como Washington vem lidando com o conflito.
Trump assumiu a presidência com a promessa de conseguir acabar rapidamente com a guerra, iniciada em fevereiro de 2022, com o ataque unilateral russo ao território ucraniano, em violação flagrante do Direito Internacional e de tratados assinados anteriormente, especialmente por ocasião da entrega do arsenal nuclear ucraniano após a dissolução da União Soviética. Desde então, os ucranianos vêm resistindo tenazmente, com o indispensável apoio norte-americano e europeu, enquanto Putin ordenava o cometimento de crimes de guerra que lhe garantiram um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) – cuja jurisdição os Estados Unidos não reconhecem, garantindo que Putin não seja preso quando chegar ao Alasca.
O momento pede que os Estados Unidos empreguem seu poder de persuasão para pôr fim à carnificina e negociar uma paz duradoura e justa
A guerra, no entanto, não terminou; desde que Trump chegou à Casa Branca, ele se movimentou de forma errática. Ao bater boca com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e chama-lo de “ditador”, o norte-americano chocou o mundo livre ao demonstrar um profundo desconhecimento da realidade. E, mesmo quando Trump passou a mirar Putin, usando as mídias sociais para pedir um cessar-fogo e ameaçando o russo com sanções econômicas, a verdade é que as promessas nunca se concretizaram. Apenas nos últimos dias Trump agiu para fechar uma das brechas que permitem a Putin seguir financiando sua máquina de guerra, impondo tarifas adicionais a países que negociam com a Rússia – a primeira nação atingida foi a Índia, com uma taxa adicional de 25% sobre os outros 25% que os produtos do país já estavam pagando para entrar nos EUA. Ainda é muito cedo, no entanto, para saber se a estratégia surtirá efeito ou se, pelo contrário, jogará de vez esses países no colo de Putin.
O fato é que, considerando as ações, que são o que realmente importa, Trump foi muito mais severo com a Ucrânia – a nação agredida, que luta para manter sua integridade territorial violada – que com a Rússia, o invasor injusto, que comete crimes de guerra e apresenta demandas absurdas para um simples cessar-fogo. A ideia de que a Ucrânia deve primeiro concordar em ceder parte de seu território à Rússia para que só então haja trégua é uma insanidade completa, uma inversão da lógica de negociação, pois só depois que as hostilidades são suspensas é que se pode discutir esse tipo de concessão. Zelensky e seus aliados europeus não estão delirando quando temem que Trump saia da reunião com Putin endossando uma proposta desse tipo, e por isso se anteciparam, afirmando que nada pode ser decidido pelas costas da Ucrânia – uma reação contundente, que levou Trump a dizer que planeja colocar Putin e Zelensky na mesma mesa, com ou sem a presença do norte-americano.
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O pior que poderia ocorrer no dia 15 seria um entendimento entre Trump e Putin, colocando pressão para que a Ucrânia entregue território em troca de uma paz frágil e injusta, especialmente se Zelensky começasse a ser pintado como um “interessado na guerra” caso recusasse um acordo absurdo – recordemos que, entre as muitas sandices que o brasileiro Lula já disse sobre o conflito, estava a de considerar Zelensky “responsável” pela continuação da guerra, quando o ucraniano nada mais faz que se defender da agressão russa. O momento pede que os Estados Unidos empreguem seu poder de persuasão para pôr fim à carnificina e negociar uma paz duradoura e justa; resta saber se Trump estará à altura do desafio.



