A Venezuela vive uma forte crise econômica que pode pôr em xeque os planos de Hugo Chávez de se manter no governo. A inflação anual do país foi superior a 25% em 2009, a maior taxa de todo o continente americano. E as expectativas para este ano não são as melhores. Os economistas traçam um cenário que aponta para um nível inflacionário superior a 30%.
Não bastasse isso, o caudilho venezuelano não se preocupa em manter boas relações diplomáticas com o maior importador do seu petróleo, os Estados Unidos. Além disso, o clima de instabilidade jurídica afasta novos investimentos, o que causa um processo de desindustrialização, fazendo com que tenha de importar comida e bens de primeira necessidade de consumo. Há muita gente que está apenas esperando Chávez sair do poder para voltar a investir por lá.
Os proprietários de terras também estão com medo, porque o presidente está exigindo certidão de posse de terra retroativa ao período colonial para que fique comprovado que a terra foi obtida de forma legal. Em todas as esferas o país está instável.
O que torna a permanência de Chávez à frente do governo é o apoio que possui entre as classes mais carentes da população. Mesmo assim, como mostrou matéria da Gazeta do Povo deste domingo, o presidente parece estar se sentindo ameaçado e começa a fazer uso de factoides para se manter no poder.
A recente denúncia apresentada pelos colombianos à Organização dos Estados Americanos (OEA), segundo a qual haveria guerrilheiros das Farc em território venezuelano, fez Chávez cortar relações diplomáticas com o país vizinho e deflagrar uma pronunciada batalha de nervos contra Álvaro Uribe, atual presidente da Colômbia. Em sua coluna dominical, Chávez disse que seu "objetivo supremo" é evitar um ataque da Colômbia a seu país até o próximo sábado, quando Uribe deixa o poder. Tal atitude é uma forma de inflamar a população para que ele ganhe mais fôlego no governo. Uma ameaça externa neste momento seria providencial para unir a população em torno de um bem comum.
Não bastasse a crise econômica e financeira, instalou-se um clima de quase terror na Venezuela, que faz com que os opositores ao governo acabem fugindo do país temendo serem presos a qualquer momento. Um clima que lembra muito os anos da ditadura vivenciados por vários países latino-americanos nas décadas de 60 a 80.
Foi o que aconteceu com o acionista da Globovisión e presidente do Banco Federal, Nelson Mezerhane, acusado pelo presidente Hugo Chávez de "roubar os correntistas" e de fugir do país com o dinheiro. No domingo a Guarda Nacional da Venezuela ocupou a residência dele, sob intervenção do governo de Hugo Chávez. A residência do empresário em Caracas foi tomada pela Guarda Nacional, sem que se informasse o motivo da ocupação. Mezerhane é presidente do Banco Federal, instituição que sofreu intervenção em junho passado, sob a alegação de que enfrentaria uma crise de liquidez. Recentemente, Chávez anunciou que assumirá parte do controle da Globovisión e que o governo vai intervir nas empresas do banqueiro para "ressarcir" o prejuízo. Desde a intervenção do Banco Federal que, segundo as autoridades venezuelanas, apresentava problemas de liquidez que poderiam pôr em risco o sistema bancário do país o Ministério Público ordenou busca e apreensão em vários bens e propriedades de Mezerhane.
Como se vê é uma situação que merece há muito tempo um posicionamento incisivo do Brasil, cuja equipe diplomática prefere se esquivar e nem sequer comentar as atitudes, alegando que não se intromete em questões internas dos países. Pelo contrário, o presidente Lula prefere voltar os olhos para questões do Oriente Médio, como a mediação do acordo nuclear entre Irã e Turquia que foi mais um tiro no pé do que um caso de sucesso em vez de tentar condenar tais práticas populistas, que apenas fazem com que os vizinhos fiquem cada vez mais perto do caos. O Brasil deveria negociar diplomaticamente com seus vizinhos, a fim de criar um bloco forte, capaz de competir comercialmente com outros blocos internacionais.



