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Editorial

Cinco fragilidades que boicotam o futuro

crescimento econômico
Baixa produtividade é um dos fatores que sabotam o crescimento econômico de um país. (Foto: Imagem criada utilizando Whisk/Gazeta do Povo)

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O trabalho de fazer previsões sobre o crescimento econômico na tentativa de identificar a possibilidade de o país começar a superar o subdesenvolvimento no curto prazo e conseguir, no longo prazo, se aproximar do grupo dos países desenvolvidos exige que sejam conhecidas variáveis do sistema produtivo atual, como o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, o padrão médio de bem-estar social da população, os gargalos e deficiências do capital físico (infraestrutura física, empresarial e social) e a taxa de investimento como proporção do PIB total.

O sistema econômico tem, de um lado, as entidades econômicas (pessoas, empresas, governo e resto do mundo) e, de outro lado, os fatores de produção (recursos naturais, força de trabalho, capital e iniciativa empresarial), que formam a base sobre a qual o país funciona e obtém seu PIB anual. Conhecido o sistema de entrelaçamento das entidades econômicas com os fatores de produção e a lógica de operação e funcionamento dessa parte da economia nacional, é importante considerar realidades conjunturais existentes, que em geral são frutos dos feitos do passado e determinam o desempenho da economia hoje e no futuro.

O Brasil praticamente nunca está em situação de calma e estabilidade para estimular os investimentos e induzir a economia a crescer a taxas expressivas

Entre essas realidades conjunturais, na economia brasileira cinco delas constituem fragilidades que dificultam o crescimento econômico, a saber: déficit público crônico, déficit estrutural do sistema de previdência social, baixa produtividade da economia, baixa taxa de investimento como proporção do PIB, e baixa taxa de crescimento do PIB por décadas seguidas. Em matéria de economia, há análises e previsões para todos os gostos, mas a validade de todas elas depende da situação dessas cinco fragilidades, pela simples razão de que nenhuma delas se resolve no curto prazo e, mesmo no longo prazo, são difíceis de extirpar, principalmente por sua resistência em relação às políticas públicas e à capacidade gerencial dos governos.

O problema brasileiro, refletido em seu nível de subdesenvolvimento e lento crescimento econômico, se resume ao baixo PIB por habitante, que está em torno de US$ 10,5 mil/ano segundo estatísticas recentes revisadas, e ao fato de que os países desenvolvidos têm PIB por habitante acima de US$ 30 mil. A taxa de crescimento do PIB brasileiro acima da taxa de crescimento da população é insuficiente para colocar o país no grupo dos desenvolvidos. Essa insuficiência deriva da presença daquelas cinco realidades conjunturais frágeis, que insistem em permanecer ano a ano, em boa parte por culpa de baixa competência dos governos na gestão macroeconômica nacional.

O Brasil padece de uma doença crônica que faz o país praticamente nunca estar em situação de calma e estabilidade para estimular os investimentos e induzir a economia a crescer a taxas expressivas que permitam sonhar com o desenvolvimento, a eliminação da miséria e a redução da pobreza. Essa doença crônica é a eterna situação de anormalidade política e mau funcionamento das instituições estatais, ao lado de alto grau de corrupção, desvios e fraudes. A alternância no poder e a troca de partidos com visões de mundo diferentes deveria ser normal e aceita como uma das características essenciais da democracia, de forma a não prejudicar o crescimento econômico regular. Infelizmente, não é o que ocorre.

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Após a redemocratização, no fim do regime militar, e com o Partido dos Trabalhadores ganhando cinco eleições presidenciais, a esquerda brasileira, com o PT à frente, não aceita a alternância no poder e tornou-se especialista em tumultuar a vida nacional; além disso, corrupção, fraudes e desvios de toda ordem se repetem com regularidade digna de um sistema carcomido e disfuncional. Esse quadro é agravado por baixa eficiência administrativa, de forma que o efeito destrutivo das cinco fragilidades já referidas é a consequência normal de um país que não consegue a normalidade política necessária a um projeto de expansão econômica e melhorias sociais relevantes.

O presidente Lula demonstra despreparo e profundo desprezo no trato das fragilidades referidas, que não são as únicas, fazendo que tais fragilidades não sejam prioridade no debate nacional e tenham baixa presença no rol das preocupações do governo e das elites dirigentes. Vale ressalvar que as cinco fragilidades aqui mencionadas (déficit público crônico, déficit estrutural do sistema de previdência social, baixa produtividade da economia, baixa taxa de investimento como proporção do PIB, e baixa taxa de crescimento do PIB) impedem a viabilidade de qualquer plano com vistas a colocar o país na estrada rumo aos países desenvolvidos.

A metade da terceira década deste século termina no fim deste ano com o país mergulhado em crise política e graves distorções no funcionamento dos três poderes da República. Com esse quadro, as fragilidades que boicotam o desenvolvimento continuarão, não serão enfrentadas, e o país não sairá do atraso.

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