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O  mercado vem dando voltas à espera do anúncio do sucessor de Guido Mantega no Ministério da Fazenda. No dia seguinte à reeleição, o dólar subiu e a Bovespa despencou; o movimento se inverteu na terça-feira e, ontem, tanto a bolsa quanto a moeda norte-americana tiveram queda. Alguns nomes já circulam pela imprensa, e a definição deve sair na primeira quinzena de novembro, antes da reunião do G20. O cenário que aguarda o novo ministro dará uma ideia bem mais real para uma expressão cunhada pelo ex-presidente Lula e que andava um tanto esquecida.

Ao chegar à Presidência, em 2003, Lula passou a falar em "herança maldita" para tentar desqualificar o governo de Fernando Henrique Cardoso no campo da economia – por mais que o petista mantivesse a política de seu antecessor. Certamente planejada por marqueteiros eleitorais de olho na reeleição de Lula, em 2006, essa expressão se destinava a criar um rótulo negativo, que deveria ser repetido à exaustão até fixar-se na mente da população para desconstruir o governo do responsável pelo Plano Real. Os rótulos, quando pegam, passam a ser repetidos como mantras, dispensando as pessoas do árduo trabalho de estudar e analisar os temas a que se referem.

Neste momento, em que Dilma Rousseff está reeleita, não é fora de lugar dizer que ela e seu novo ministro terão de administrar uma verdadeira "herança maldita", deixada por si mesma em vários campos nevrálgicos, entre os quais está a economia. Nesta área, as heranças pesadas são o baixo crescimento do PIB, a inflação, o déficit externo, o déficit público e a deterioração das empresas estatais. Afora o déficit externo – que tem relação com a situação internacional, sobretudo a queda nos preços dos produtos exportados pelo Brasil –, os outros problemas são obra da política econômica da própria Dilma.

Quanto à estagnação do PIB, não é verdade que a culpa está na crise internacional, conforme a presidente repete exaustivamente. Alguns países vizinhos, que não têm economias mais fortes que a brasileira, irão crescer bem mais que o Brasil em 2014. Alguns exemplos são a Colômbia (4,8%), o Peru (3,6%) e o México (2,4%), enquanto o Brasil ficará com o PIB estagnado em torno de 0,3% neste ano. E vale acrescentar que todos esses países terão inflação abaixo de 4%, enquanto o Brasil ameaça superar o teto da meta, que é 6,5%.

A inflação brasileira, cuja meta central é de 4,5%, é resultado das ações governamentais, especialmente o descontrole nos gastos públicos, que levou ao fim do superávit primário e ao consequente aumento do déficit público nominal. Como agravante, a taxa de inflação está alta apesar de o governo ter represado os preços de energia, dos combustíveis e das tarifas de transporte. Se tais preços estivessem atualizados, a inflação seria ainda maior. Além do mais, as medidas de represamento de preços, tomadas na tentativa de segurar a inflação, produziram o efeito colateral de deteriorar a situação financeira da Petrobras e das empresas do sistema energético, e essa é mais uma herança com a qual o governo terá de lidar e para a qual não há solução simplista e indolor.

A herança econômica negativa dos quatro anos de Dilma é um problema a ser enfrentado pela própria presidente como imposição da realidade e, caso resolva ignorar a sua gravidade, o país verá a deterioração dos indicadores econômicos, o que acabará refletindo em aumento do desemprego e piora do quadro social. A fala da presidente Dilma de que, mesmo diante dos problemas, o Brasil tem taxa de desemprego relativamente baixa não terá vida longa, pois não é possível manter indicadores econômicos ruins por muitos anos sem prejuízo social e sem elevação do desemprego.

Espera-se que a presidente saia de sua conhecida posição de inflexibilidade e teimosia e seja capaz de ouvir e reconhecer os erros, como forma de recolocar o país no rumo da boa economia.

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