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A meta de inflação anual fixada em resolução do Banco Central (BC) é de 4,5%, com tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo, ou seja, piso de 2,5% e teto de 6,5%. Mas qualquer taxa de inflação acima de 3% ao ano é considerada ruim por reduzir o poder de compra dos salários, diminuir o valor dos ativos e desestimular os negócios. A meta de 4,5% não é considerada baixa, e o teto de 6,5% é tolerável apenas momentaneamente; caso ocorra, deve ser combatido com rigor, inclusive pelo risco de seguir aumentando. As camadas que mais sofrem com a inflação são as de renda mais baixa, sobretudo os assalariados de renda fixa.

Em janeiro de 2015, a inflação ficou em 1,24%, taxa extremamente elevada para um único mês, deixando a população e os agentes econômicos apreensivos quanto aos rumos da escalada de preços. Terminados os cálculos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro ficou em 1,22%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com essa taxa, a alta de preços dos últimos 12 meses bateu nos 7,7%, a mais elevada desde maio de 2005, muito acima do teto da meta.

Nos dois primeiros meses do ano, a inflação acumulada atingiu a marca de 2,475% e o cumprimento da meta de 4,5% só seria possível se, nos dez meses seguintes, os preços subissem apenas 2,025%, algo praticamente impossível. Todo esse cenário já seria um problema grave em si mesmo não fosse um aspecto capaz de piorar ainda mais as coisas: os preços subiram basicamente em função de aumentos de impostos, não por razões ligadas a custos de produção ou efeitos da lei da oferta e da procura. Em resumo, o governo é o responsável pela inflação.

O primeiro mandato da presidente Dilma viu o Brasil fazer meia volta e retornar a anos ruins de crescimento em baixa e inflação em alta, resultado principalmente de uma política econômica interna cheia de erros

Destacam-se, como importantes fatores de aumento da inflação, as elevações de tributos sobre automóveis, cosméticos, combustíveis e energia. Como o Brasil é importador de um conjunto de bens de consumo e bens de capital, a elevação de preços internos e o aumento do dispêndio com importações também estão pressionando a inflação para cima, em razão da elevação da taxa de câmbio. Tendo superado a barreira dos R$ 3 na semana passada, o preço do dólar continuará pressionando os preços internos para cima, e este é um elemento complicador na política de combate à inflação.

Até cerca de 40 anos atrás, o mundo estava acostumado com inflação em condições de excesso de demanda sobre a oferta ou por escassez de produtos. Não era conhecido o quadro de inflação renitente num momento em que a economia está em recessão, quando as empresas perdem vendas e, por consequência, têm dificuldades em promover elevação dos preços de seus bens e serviços. Entretanto, sobretudo a partir dos anos 70, o mundo passou a conviver com um quadro de “estagflação”, palavra que foi cunhada para se referir à existência simultânea de inflação e recessão. O Brasil vive situação similar: está com o Produto Interno Bruto (PIB) estagnado e, mesmo assim, a inflação teima em subir, embora o governo afirme que essa inflação resulta de ajustes momentâneos e os próximos meses serão de redução na elevação dos preços.

Um dos aspectos problemáticos dessa equação é que a inflação alta vai pressionar fortemente as demandas dos sindicatos por reajustes salariais conformes com a inflação passada, o que resulta em fator impeditivo para o objetivo de trazer a inflação do ano para baixo. Os diversos elementos que compõem esse quadro transformam a missão do BC numa tarefa difícil de ser concluída com êxito.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o Brasil nunca experimentou longos períodos de inflação baixa, o que explica em parte a dificuldade do país em prosperar e sair da pobreza. Com o Plano Real, implantado em 1994, o país experimentou prolongado período de inflação que, se não é totalmente baixa, tem sido pelo menos relativamente baixa para os padrões brasileiros. Foi nesse período que, ao lado da superação da hiperinflação, algumas reformas permitiram anos de crescimento e melhoria social que duraram até 2010. O primeiro mandato da presidente Dilma viu o Brasil fazer meia volta e retornar a anos ruins de crescimento em baixa e inflação em alta, resultado principalmente de uma política econômica interna cheia de erros.

A inflação de janeiro e fevereiro é alta, é preocupante e constitui ameaça que não deve ser desprezada. Medidas duras – ainda que impopulares – devem ser tomadas caso os preços continuem subindo nos próximos meses.

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