
A desaceleração da inflação em abril, na comparação com março, não foi suficiente para frear a subida do acumulado em 12 meses, que segue mais de um ponto porcentual acima do limite máximo de tolerância para a meta desde ano. Na sexta-feira, o IBGE divulgou o IPCA de abril, que foi de 0,43%, contra 0,56% em março. No entanto, o acumulado subiu ligeiramente, para 5,53%, contra um limite de 4,5% para que a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional seja cumprida. Não só isso: o acumulado de 12 meses de abril é quase dois pontos porcentuais maior que o verificado no mesmo mês do ano passado, quando era de 3,69%.
De acordo com os dados do IBGE, um terço do avanço total dos preços registrado em abril se deve ao grupo “Saúde e cuidados pessoais”, que subiu 1,18% e respondeu por 0,16 ponto porcentual do IPCA de abril. Em 31 de março, entrou em vigor um reajuste de até 5,06% nos preços dos medicamentos autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O grupo “Alimentação e bebidas” não subiu tanto quanto os itens de saúde, mas a alta de 0,82% ainda está acima do índice cheio, e contribuiu para mais 0,18 ponto porcentual na composição do índice de abril. Na outra ponta, a queda de 14,15% nos preços das passagens aéreas – um item de fortíssima volatilidade – e reduções nos combustíveis fizeram o grupo “Transportes” ser o único a registrar deflação no mês passado.
Não há moeda nacional que resista a políticas fiscais expansionistas como a brasileira
Alguns fatores externos também ajudaram a gerar um alívio temporário. O dólar se desvalorizou ao longo de abril: depois de bater os R$ 6 em meio à tensão global com o “tarifaço” de Donald Trump, a moeda norte-americana fechou o mês passado em R$ 5,67. Mas que ninguém se iluda, pois este foi muito mais um movimento de perda de força do dólar globalmente, e não um fortalecimento do real graças a medidas que preservariam o valor da moeda brasileira. Internamente, continuamos mais frágeis que nunca, pois o governo federal não se moveu um único milímetro na direção de uma responsabilidade fiscal que proteja o poder de compra do brasileiro, destruído pela inflação.
Essa persistência da inflação – especialmente a manutenção do acumulado de 12 meses em patamares bem superiores ao limite máximo de tolerância da meta de inflação – acaba reforçando os motivos citados pelo Copom para a elevação de meio ponto porcentual na taxa Selic, decidida na semana passada. Naquela ocasião, o comunicado citou, como um dos riscos de alta para a inflação e as expectativas, “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”. Ainda que o comunicado tenha dado mais destaque às consequências da política comercial norte-americana, o que é bastante compreensível, o texto é claro ao afirmar que as políticas internas continuam a ser fator importante para a trajetória da inflação.
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Ainda que o dólar continue um ciclo de enfraquecimento global como consequências das políticas tarifárias norte-americanas, não há moeda nacional que resista a políticas fiscais expansionistas como a brasileira. Enquanto o gasto público ilimitado e o estímulo irresponsável à demanda constituírem o centro da estratégia lulopetista para fomentar o crescimento do PIB, o Banco Central precisará continuando responder com políticas monetárias contracionistas para impedir que a inflação não escape totalmente do controle.



