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Sede do Banco Central em Brasília
| Foto: Rodrigo Oliveira/Caixa Econômica Federal

Quando emitiu seu comunicado após a reunião de meados de setembro, ao reduzir a taxa Selic para 5,5% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avisou que “a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo” – em outras palavras, se não houvesse nenhum solavanco interno ou externo, os juros poderiam cair ainda mais. Foi exatamente o que ocorreu no fim de outubro, quando o Copom promoveu outro corte de meio ponto porcentual. Agora, a Selic está em 5%, um novo recorde de taxa mais baixa desde 1999, para o bem do país, especialmente do setor produtivo.

O comunicado desta última reunião, divulgado na noite de quarta-feira, é praticamente idêntico ao da reunião anterior; afinal, não houve mudanças radicais no cenário, para o bem e para o mal. A inflação continua sob controle, com as expectativas para os próximos quatro anos permanecendo abaixo dos 4%. O cenário externo segue favorável às economias emergentes: a guerra comercial entre superpotências parece ter entrado em um período de trégua, e os Estados Unidos também cortaram seus juros nesta semana. A reforma da Previdência foi finalmente aprovada pelo Congresso Nacional, faltando apenas sua promulgação – o impasse sobre a data em que isso ocorrerá é a última chance de os parlamentares ainda tentarem arrancar alguma concessão do governo.

A queda dos juros facilita os investimentos que gerarão emprego e renda, mas não faz milagres

O que também não mudou, infelizmente, foi o ritmo “gradual” – um eufemismo do Copom para “lento” – da recuperação da economia brasileira. A produção industrial, apesar de alta de 0,3% em setembro, ainda acumula queda de 1,4% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE. O desemprego continua alto, em 11,8%, acima das expectativas do mercado: são 12,5 milhões de brasileiros procurando emprego, enquanto outros 38,8 milhões estão trabalhando por conta própria ou sem carteira assinada. O enfraquecimento na demanda é parte da explicação para a inflação baixa, e o “nível de ociosidade elevado” voltou a ser citado pelos autores do relatório do Copom como um dos fatores que poderá manter a inflação sob controle mesmo em caso de um reaquecimento mais forte da economia.

Mas, diferentemente do relatório de setembro, desta vez o Copom dá a entender que este novo ciclo de queda nos juros pode estar perto do fim. No relatório de setembro afirmava-se que “o comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo”; o texto de quarta-feira repete a frase, mas acrescenta um “de igual magnitude” e a expressão “o Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico  recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo”, antecipando que pode haver um novo corte de meio ponto na última reunião do ano, em dezembro, mas novas reduções depois disso terão de ser muito bem ponderadas, pois também será preciso observar os efeitos da atual política de estímulo monetário, que não vêm imediatamente.

A queda dos juros facilita os investimentos que gerarão emprego e renda, mas não faz milagres. Para que esses investimentos ocorram, o setor produtivo precisa estar confiante a ponto de empenhar dinheiro em melhorias, ampliações e contratações. O fim da novela da reforma da Previdência é um ponto positivo; o Congresso Nacional discute a reforma tributária, enquanto o Poder Executivo estuda uma reforma administrativa e um pacote de estímulo ao emprego. Quanto mais reformas liberalizantes e menos intervencionismo estatal sobre a produção e o consumo, mais próximo estará o ponto de virada.

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