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Editorial

Lula rebaixa ainda mais a diplomacia brasileira

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Participantes da "Marcha dos Vivos" de 2025, evento anual de recordação do Holocausto realizado em Auschwitz. (Foto: Jarek Praszkiewicz/EFE/EPA)

A política externa brasileira sob Lula e seu chanceler de facto, Celso Amorim, já demonstrou que é impossível alguém julgar que já se chegou ao ponto mais baixo, pois, após cada episódio constrangedor, sempre vem algo ainda pior, ou mais difícil de imaginar. E, desta vez, não se tratou apenas de qualidade, mas de quantidade, com dois anúncios, feitos na mesma semana, que escancaram o antissemitismo do atual governo brasileiro.

Na quarta-feira passada, dia 23, o Itamaraty anunciou que o Brasil entraria formalmente em uma ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça, da Organização das Nações Unidas. Os sul-africanos acusam os israelenses de promover genocídio em sua operação militar na Faixa de Gaza, iniciada em resposta à barbárie terrorista cometida pelos palestinos do Hamas em 7 de outubro de 2023 – até hoje, dos cerca de 250 reféns israelenses levados pelos terroristas naquele dia, 50 continuam em poder do Hamas, vivos ou mortos. A postura brasileira não é exatamente uma surpresa – o tom das falas de Lula e das notas do Itamaraty sempre mostrou qual era o lado brasileiro diante da guerra em curso –, mas revela, na “menos pior” das hipóteses, uma ignorância avassaladora, quando não uma opção deliberada que rebaixa o Brasil diante da comunidade internacional.

Enquanto defende a existência de genocídios imaginários, o Brasil lulopetista menospreza os genocídios reais

Que possa haver crimes de guerra cometidos por Israel em sua ofensiva contra o Hamas é algo discutível e que deve, sim, ser investigado. Neste exato momento, inúmeros atores respeitados, que vão do presidente Donald Trump ao papa Leão XIV, têm alertado para uma crise humanitária gravíssima, com o alastramento da fome entre a população palestina da Faixa de Gaza, e não se descarta de antemão a possível (e inaceitável) instrumentalização da falta de comida como arma de guerra. Mas é absurdo apontar um dedo para Israel sem recordar também a responsabilidade do Hamas, que usa a população palestina como escudo humano, aproveita instalações civis para esconder armas e militantes, tem dificultado as negociações de paz, desvia ajuda humanitária e tem como razão de existir a eliminação de Israel e dos judeus, recorrendo para isso ao terrorismo, provocando assim a atual ofensiva israelense. Não é exagero dizer que o Hamas também ganha com a fome em Gaza – e talvez tenha até mais a ganhar que Israel.

A existência de eventuais crimes de guerra, no entanto, não basta para que se configure genocídio. A literatura acadêmica e o Direito Internacional são bastante claros a esse respeito: a definição clássica de genocídio exige a existência de uma intenção deliberada de eliminar um povo: os judeus, os ucranianos, os armênios, os tutsis – estes, sim, foram vítimas inequívocas de genocídio pelas mãos, respectivamente, de Hitler, de Stalin, dos turcos e dos hutus. Ainda que possa haver, dentro do governo israelense, alas mais radicais que gostariam de ver os palestinos varridos do mapa (ou ao menos expulsos definitivamente de Gaza e da Cisjordânia), afirmar que esse desejo move as ações militares israelenses é um enorme non sequitur, mas um que o governo brasileiro parece disposto a adotar. A rigor, aliás, os terroristas do Hamas e seus patrocinadores iranianos estariam mais próximos da definição clássica de promotores do genocídio (ainda que incapazes de realizar seus objetivos) que os militares israelenses.

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Como se não bastasse, enquanto defende a existência de genocídios imaginários, o Brasil lulopetista menospreza os genocídios reais. No dia seguinte ao anúncio brasileiro sobre a ação sul-africana na CIJ, o governo anunciou sua saída da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), da qual participava como observador desde 2021. A entidade é responsável, por exemplo, pela definição de antissemitismo adotada por quase 50 países e milhares de instituições em todo o mundo. Como bem lembrou o comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo, Fernando Lottenberg, Lula pode até ter suas diferenças com o atual governo israelense, mas isso em nada deveria influenciar a posição brasileira em relação ao passado – o Brasil recebeu cerca de 25 mil sobreviventes do Holocausto.

Um grande parceiro ideológico de Lula nos seus dois primeiros mandatos, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, negou o Holocausto mais de uma vez. Lula pode até não chegar a esse extremo, mas sua aversão a Israel e outras democracias como os Estados Unidos aproxima o Brasil do que há de pior no mundo: totalitarismos, ditaduras, nações patrocinadoras do terrorismo, agressores de países vizinhos, criminosos de guerra. A respeitada escola de diplomacia de Rio Branco e de Oswaldo Aranha não existe mais; foi substituída pela ideologia mais rasteira, que agora norteia a atuação internacional brasileira.

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