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Lula em Guarulhos (SP), 25 de maio de 2024.
Em Guarulhos (SP), Lula voltou a falar da guerra de Israel contra o Hamas, mas não disse nada sobre a morte do refém brasileiro Michel Nisenbaum.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Uma das marcas mais infames da política externa de Lula – neste mandato, mas também nos anteriores – é sua incapacidade completa de chamar as coisas ou as pessoas pelo que são, ou em sentido oposto, a facilidade com que ele chama coisas ou pessoas daquilo que não são. É assim que a ditadura venezuelana vira “democracia”; que a Ucrânia deixa de ser vítima de uma agressão unilateral russa para se tornar “culpada” pelo conflito que se arrasta há dois anos; que a ação de Israel contra o Hamas em Gaza se torna “genocídio”; e, finalmente, que os terroristas do Hamas quase nunca sejam chamados como tais pelo petista, nem mesmo quando o resultado dos seus atos bárbaros atingem cidadãos brasileiros.

Na sexta-feira, as Forças de Defesa de Israel confirmaram que um dos corpos de reféns do Hamas recuperados na noite anterior era do brasileiro Michel Nisenbaum, 59 anos, niteroiense que vivia em Israel desde 1988 e havia sido sequestrado em 7 de outubro, enquanto dirigia seu carro para buscar sua neta em uma base das FDI. Segundo as forças israelenses, Nisenbaum e os outros dois civis cujos corpos foram encontrados na quinta-feira haviam sido assassinados ainda naquele trágico dia 7. Nas mídias sociais, o presidente Lula até conseguiu – e sabe-se lá quanto esforço isso deve ter exigido dele – referir-se a Nisenbaum como “refém do Hamas”, mas novamente faltou a qualificação exata dos militantes islâmicos: terroristas. Não passou despercebido o fato de Lula ainda se referir à “morte” do brasileiro, e não de seu “assassinato”, como se Nisenbaum pudesse ter morrido de qualquer outra causa não violenta enquanto era mantido cativo pelo Hamas.

O Itamaraty, ao menos, foi capaz de emitir uma “veemente condenação aos atos terroristas praticados pelo Hamas”, conseguindo juntar os dois termos-chave em uma única sentença, ao contrário do que faz Lula, que quando cita o Hamas não costuma falar em terrorismo, e quando fala em terrorismo quase nunca menciona nominalmente o grupo palestino. A nota do Ministério das Relações Exteriores já é uma evolução em comparação com os textos emitidos quando da confirmação das mortes de outros brasileiros vítimas do terror islâmico, como Ranani Glazer, Bruna Valeanu e Karla Stelzer, lamentadas em comunicados que não citavam nem o Hamas nem a natureza terrorista dos atos do 7 de outubro. Lula, no entanto, se mostra incapaz de demonstrar a mesma capacidade de melhorar.

A tibieza da resposta lulista à notícia de mais um brasileiro assassinado pelos terroristas não passou despercebida. Sua afirmação de que “o Brasil continuará lutando, e seguiremos engajados nos esforços para que todos os reféns sejam libertados” foi prontamente contestada. A família de Nisenbaum recebeu de Lula e do governo atenção ínfima em comparação com os brasileiros residentes em Gaza – e, se o petista age assim quando se trata de seus concidadãos, quem em sã consciência haverá de acreditar que ele faz algum esforço em prol dos reféns de outras nacionalidades? A hipocrisia foi muito bem resumida pelo presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Marcos Knobel: “Quando um grupo de palestinos de Gaza com passaporte brasileiro chegaram ao Brasil, o presidente Lula afirmou que nenhum brasileiro ficaria para trás, mas, na cabeça dele, ele só estava se referindo aos palestinos”, disse.

Para completar o insulto à memória de Nisenbaum, Lula fez questão de tratar o assassinato do brasileiro como página virada neste sábado, em Guarulhos, quando voltou a falar do conflito entre Israel e os terroristas. Pediu “solidariedade às mulheres e crianças que estão morrendo na Palestina por irresponsabilidade do governo de Israel”, cujas ações chamou de “aberração”. Solidariedade com as vítimas do terrorismo? Solidariedade com a família dos quatro brasileiros mortos pelo Hamas? Uma menção que fosse ao nome de Nisenbaum? Absolutamente nada.

A crítica ao modo como Israel conduz sua guerra contra o terror islâmico é possível, e não há como descartar de antemão a possibilidade de cometimento de crimes de guerra em Gaza, mas isso deve ser objeto de criteriosa investigação, de preferência isenta de qualificativos ideológicos que envenenam o debate, como a abjeta comparação entre israelenses e nazistas, feita por Lula meses atrás. O que não é possível, de forma alguma, é a leniência quando se trata de um grupo comprovadamente terrorista, que tem objetivos comprovadamente genocidas e que comprovadamente (a repetição é necessária neste caso) despreza seu próprio povo, usado como escudo humano para proteger suas atividades. A forma como Lula, o governo e o PT lidam com o 7 de outubro e seus desdobramentos não revela apenas incoerência, mas hipocrisia e, a julgar pelas demonstrações de apoio ao Hamas feitas por membros da esquerda, até mesmo cumplicidade.

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