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Editorial

Em nome do orgulho próprio, Lula prefere prejuízos à economia com tarifas

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Lula discursa em reunião do "Conselhão", em 5 de agosto de 2025. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

Desde quarta-feira, 6 de agosto, as novas tarifas que produtos brasileiros terão de pagar para entrar nos Estados Unidos já estão em vigor: à exceção de cerca de 700 itens que pagarão 10%, todos os demais serão taxados em 50%, em uma decisão que Donald Trump atribuiu ao que classifica de perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Mesmo com as exceções, pouco mais da metade das exportações brasileiras atuais para os EUA está sujeita ao tarifaço, e o setor produtivo tenta calcular o tamanho do estrago em termos de perda de empregos e prejuízo com exportações que não mais ocorrerão. Um estrago que poderia ser menor, se não tivéssemos um ególatra no Palácio do Planalto.

Não faltou tempo para que o Brasil se mexesse: as novas tarifas foram anunciadas por Trump há quase um mês e, mesmo assim, o governo praticamente deixou o tempo correr e a bomba explodir no colo dos exportadores. As últimas quatro semanas foram gastas com bravatas lulistas, comparações de botequim e pouquíssima negociação real: só houve um encontro de alto nível, entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado Marco Rubio, que não rendeu nada a não ser a afirmação de que o governo brasileiro aceita discutir questões comerciais. A discussão propriamente dita, no entanto, não aconteceu e, se depender de Lula, não acontecerá tão cedo.

Pode-se dizer muita coisa da política de comércio exterior de Trump, mas buscar um canal de negociação de altíssimo nível, com dois chefes de Estado conversando diretamente, nada tem de “humilhação”

Os norte-americanos deixaram portas abertas: o encarregado de negócios da embaixada norte-americana no Brasil manifestou interesse em um acordo que contemplasse a exploração de terras raras em solo brasileiro, mas Lula respondeu que “se esse mineral já é crítico, eu vou pegar ele pra mim. Por que eu vou deixar pra outro pegar?”, escondendo que o Brasil não tem capacidade de processar esses minérios e que os chineses os estão “pegando” em quantidades cada vez maiores. Depois, foi a vez de o próprio Trump dizer que Lula poderia telefonar para ele quando quisesse para falar de tarifas. Mas, nesta quarta-feira, o petista disse que não iria “se humilhar” porque “a minha intuição diz que ele não quer conversar” – apesar de Trump ter afirmado explicitamente o contrário.

Pode-se dizer muita coisa da política de comércio exterior de Trump: que é errática, que padece de lógica, que se baseia em premissas falsas (por exemplo, a afirmação de que os Estados Unidos são deficitários nas trocas comerciais com o Brasil); mas buscar um canal de negociação de altíssimo nível, com dois chefes de Estado conversando diretamente, nada tem de “humilhação”. Nenhum dos países ou blocos econômicos que tenham tomado a iniciativa de procurar Trump para conversar saiu de mãos completamente vazias. Já o Brasil, até agora, teve mais sorte que juízo, pois as quase 700 exceções abertas por Trump não foram resultado de nenhum tipo de negociação bilateral, mas da necessidade norte-americana de não interromper suas cadeias produtivas.

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Para a tragédia do setor produtivo, a retórica do confronto é perfeita para Lula. O discurso sobre “soberania” conquista incautos, por mais que o presidente seja um grande entreguista quando se trata de camaradas ideológicos. E o bode expiatório já está pronto para quando a política fiscal irresponsável de Lula cobrar seu preço – indicadores como mercado de trabalho e PIB seguem positivos, é verdade, mas este é o resultado natural, no curto prazo, de políticas de estímulo ao consumo; vários desses indicadores também estavam bons antes da recessão de 2015-16. Daqui em diante, as tarifas serão usadas como desculpa para tudo que sair errado na economia, assim como a esquerda, há 60 anos, culpa o embargo econômico norte-americano pela miséria cubana, quando os verdadeiros responsáveis são os socialistas que implantaram políticas econômicas desastrosas na ilha.

No último domingo, durante um encontro nacional do PT, Lula afirmou: “eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, eu tenho que falar o que é possível falar”. Pois, se “não podendo falar tudo”, ele já diz uma série de sandices que custam caro ao setor produtivo brasileiro ao acirrar a disputa com os Estados Unidos, só podemos imaginar a catástrofe que haveria caso o petista de fato dissesse tudo o que deseja. Catástrofe esta, aliás, que ainda não está totalmente descartada, caso o Brasil insista em seguir fazendo negócios com a Rússia, alimentando a máquina de guerra que agride a Ucrânia e arriscando um tarifaço ainda maior.

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