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Editorial

Mais uma do caudilho

O novo episódio de crise diplomática entre Venezuela e Colômbia é mais uma prova de como determinados governantes la­­tino-americanos consideram estar acima dos Estados que governam. Parecem despreocupados com o bem-estar de suas próprias nações e com a harmonia das relações regionais dos Estados americanos.

Sem se preocupar com os possíveis resultados de sua medida discricionária, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, cortou as relações diplomáticas entre os dois países. Resultado: a medida vai afetar as exportações colombianas à Venezuela, segundo estimativas do Ministério do Comércio da Colômbia, que devem cair drasticamente – dos US$ 6 bilhões de 2008, para US$ 1,5 bilhão neste ano – isso deve representar um ponto a menos no crescimento de seu Produto Interno Bruto (PIB).

Na quinta-feira, Hugo Chávez anunciou o rompimento das relações com o país vizinho, por causa das acusações feitas pelo embaixador colombiano na Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Alfonso Hoyos, de que o território venezuelano estaria sendo usado para acampamento de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN). Durante a reunião dos países membros da OEA, o embaixador afirmou que haveria 87 acampamentos de duas guerrilhas na Ve­­nezuela, abrigando pelo menos 1.500 homens, e pediu que organismos internacionais investigassem a denúncia.

A denúncia de Hoyos ocorre 15 dias antes de o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deixar o poder, fazendo com que analistas internacionais vissem o novo episódio como uma jogada política do chefe do Executivo colombiano. Segundo especialistas, caso as denúncias viessem a se comprovar e levassem a um enfraquecimento da guerrilha, Uribe deixaria o poder, mas sairia fortalecido, permanecendo como ator político relevante.

Contra as denúncias da Colômbia, o embaixador venezuelano na OEA, Roy Chaderton, contra-atacou dizendo que as fotos apresentadas foram feitas em solo colombiano e que Uribe demonstrava estar sendo guiado pelos Estados Unidos. Ontem, em entrevista coletiva na capital americana o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Phillip J. Crowley, disse que o país apoia o envio de uma missão internacional para investigar as acusações da Colômbia contra a Venezuela.

As relações entre Uribe e Chávez há tempos estão estremecidas. Em junho deste ano, a embaixada da Venezuela cumprimentou Juan Manuel Santos pela vitória à Presidência, que, por sua vez, havia afirmado estar entre suas prioridades melhorar as relações com o presidente venezuelano.

Se de um lado a Venezuela vem criticando Uribe e sua proximidade com os Estados Unidos, o comportamento ambivalente de Chávez a respeito da guerrilha colombiana vem há tempos atrapalhando a relação entre os países. Exemplo disso foi a reação do presidente venezuelano em 2008, ao mobilizar tropas para a fronteira entre os dois países, por causa de um ataque militar da Colômbia a um acampamento das Farc no Equador. Além de acirrar os ânimos já exaltados nos países da região, de forma irresponsável Chávez chegou a homenagear um dos principais líderes das Farc que foi morto na ocasião, com um minuto de silêncio.

Fato é que todas essas atitudes de Chávez apenas reforçam a sua postura de ditador, mesmo tendo sido eleito democraticamente pela população venezuelana. Fácil perceber isso, primeiro porque é muito próprio dos ditadores cortar relações e fechar qualquer porta para o diálogo. Segundo porque ditadores se consideram maiores que as nações que governam, e Chávez, mais uma vez, se coloca acima do Estado ao cortar relações que não são de governo para governo, mas de Estado a Estado. Essa decisão tem implicações muito maiores que a duração de seu tempo à frente do comando da nação venezuelana.

Terceiro porque o caudilho costuma ter atitudes de rupturas, dramáticas, sem levar em conta as necessidades de seu povo em termos econômicos. Como dito antes, a relação entre os dois países envolvidos nesta questão são muito importantes, tendo em vista que a Colômbia é o principal player econômico da Venezuela. Quarto porque é da natureza dos ditadores tomar atitudes muito personalistas, que levem em conta seu gosto pessoal. Tudo o que faz só reafirma a postura ditatorial do governo dele. Chávez age como se seu comando não tivesse prazo para acabar.

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