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No escândalo do mensalão, o quarteto de petistas aclamados como “guerreiros do povo brasileiro” incluía Delúbio Soares, tesoureiro do partido na época em que estouraram as denúncias de desvio de dinheiro para compra de apoio parlamentar. Em 2005, ele chegou a ser expulso do PT por decisão do Diretório Nacional, mas foi readmitido em 2011 e, a julgar pelo grito de guerra que o colocava como herói ao lado de José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha, os tempos de ostracismo ficaram definitivamente no passado. Condenado pelo STF a seis anos e oito meses de prisão, ele cumpre pena em sua casa desde setembro do ano passado. Agora é a vez de outro tesoureiro petista, João Vaccari Neto, encarar a prisão. Nesta quarta-feira, dia 15, Vaccari foi preso por ordem do juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato, e levado de São Paulo para Curitiba.

Em março, Vaccari já tinha se tornado réu após denúncia do Ministério Público Federal – além dele, mais 26 pessoas (inlcuindo o ex-diretor Renato Duque) foram denunciadas por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Segundo o MPF, Vaccari e Duque se reuniam para acertar propinas que seriam revertidas em doações oficiais ao PT. “Vaccari tinha consciência de que os pagamentos eram feitos a título de propina”, escreveu Deltan Dallagnol, procurador do MPF. Mas até agora Moro ainda não tinha considerado que a prisão de Vaccari fosse uma necessidade.

O deputado petista Sibá Machado ressuscitou o bordão da “prisão política”

Isso mudou nesta semana. “A manutenção dele [Vaccari] em liberdade ainda oferece um risco especial pois as informações disponíveis na data desta decisão são no sentido de que João Vaccari Neto, mesmo após o oferecimento contra ele de ação penal pelo Ministério Público Federal em 16/03/2015, remanesce no cargo de tesoureiro do Partido dos Trabalhadores”, escreveu Moro no despacho em que ordenou a detenção do petista. Segundo o MPF, o tesoureiro teria usado uma editora para lavar propinas destinadas ao PT – informação baseada em extratos bancários e no teor de delações premiadas. A mesma editora já tinha sido condenada em 2010 pelo Tribunal Superior Eleitoral por propaganda irregular em favor de Dilma Rousseff. Além disso, na ordem de prisão preventiva contra o tesoureiro, Moro levou em consideração os indícios levantados pelo MPF de enriquecimento ilícito de familiares de Vaccari, incluindo sua esposa, filha e cunhada – trata-se de contas bancárias com saldos milionários e negociações de imóveis no litoral paulista.

A investigação parecia não abalar a posição de Vaccari dentro do PT. Em fevereiro, ele foi aplaudido durante as comemorações dos 35 anos do partido em Belo Horizonte. “Na dúvida, fique com o companheiro”, pediu Lula na ocasião. Mesmo depois que o MPF ofereceu a denúncia e transformou Vaccari em réu, a cúpula do partido rejeitava a possibilidade de afastamento do tesoureiro, pois isso constituiria um “pré-julgamento” – uma das correntes petistas, a Mensagem ao Partido, até defendia a saída de Vaccari, mas o presidente da legenda, Rui Falcão, lutou por sua permanência no cargo. Mesmo depois da prisão, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse não ver motivos para Vaccari deixar de ser tesoureiro; o deputado petista Sibá Machado ressuscitou o bordão da “prisão política”, e nota da presidência do partido classificou a prisão como “injustificada” e “desnecessária”.

A mesma nota informou o afastamento de Vaccari do cargo de tesoureiro do partido. Na versão oficial, foi um pedido do próprio Vaccari “por questões de ordem práticas e legais” – nos bastidores, diz-se que a iniciativa foi de Lula, aquele que pediu aos petistas para “ficar com o companheiro”. No texto da presidência do partido, Falcão “reafirma sua confiança na inocência de João Vaccari Neto”. O tesoureiro, ao que parece, não passará pela via crúcis partidária que seu antecessor enfrentou. Que os membros e simpatizantes do PT comprometidos com a moralização da política brasileira coloquem seu esforço para que Vaccari não pule diretamente para a fase do “guerreiro”.

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