A revolução científica e tecnológica iniciada no século 18 vem transformando a economia e a sociedade com tal profundidade que acabou por fazer do Estado aquilo que foi dito pelo pensador Daniel Bell: "O governo tornou-se pequeno demais para os grandes problemas e grande demais para os pequenos problemas". As questões menores e mais prementes, quando resolvidas pelo governo são caracterizadas por ineficiência, altos custos e baixa qualidade. As questões maiores, como os grandes investimentos em infraestrutura, não raro são resolvidas com atraso, de forma incompleta, além de corrupção e desperdício de dinheiro público. Não resta dúvida de que um dos principais desafios da humanidade é reinventar o governo para que ele possa cumprir bem o seu papel, nos termos requeridos pelas sociedades modernas.
Por razões históricas e culturais, a ação política no âmbito do Legislativo e do Executivo alimenta-se muito mais das picuinhas eleitorais, dos joguetes do poder e dos interesses dos seus atores do que propriamente do debate e da busca de soluções para as grandes questões econômicas e sociais. Por mais que o mundo político seja gerador de uma profusão de notícias, existe um verdadeiro marasmo e uma grande lentidão quando se trata de temas relevantes como a reforma tributária, a reforma trabalhista, a reforma política, a questão da previdência oficial, a legislação sobre o marco regulatório de investimentos, a reforma da saúde, a política educacional e tantos outros assuntos fundamentais para a vida da nação.
O problema é que a economia e a sociedade não estão em condições de esperar muito, sob pena de se pagar um alto preço expresso em pobreza e atraso. A população brasileira continua crescendo em mais de 2 milhões de habitantes por ano, a economia precisa crescer a taxas elevadas e os indicadores sociais têm que ser melhorados urgentemente. O empobrecimento do debate econômico e o marasmo político significam um alto custo para a sociedade, ainda que a identificação clara desse custo seja de mensuração difícil. O povo brasileiro tem sido tolerante e leniente com o baixo desempenho do sistema público, seja por questões culturais, seja por não compreender em detalhes o quanto essa realidade é responsável pela demora nos avanços sociais.
Individualmente, o cidadão dispõe de um instrumento, que é o voto, para tentar influir nas mudanças, enquanto a sociedade dispõe da mobilização política para pressionar os governantes a melhorar seus padrões de atuação e de eficiência. À imprensa cabe o papel de vocalizar as angústias da população, cobrar dos governantes as ações que lhes cabem de ofício, denunciar os desvios e divulgar as más condutas. Uma das vergonhas da política brasileira é o grande número de dispositivos colocados na Constituição Federal de 1988 que carecem de regulamentação por meio de leis ordinárias e complementares e que até hoje não foram resolvidos, situação que levou o Poder Judiciário a exercer o papel de legislador em função do vácuo legislativo deixado pelo parlamento nacional.
As transformações econômicas, tecnológicas e sociais continuarão ocorrendo em alta velocidade e o governo corre o risco de tornar-se muito mais um obstáculo do que um eficiente agente do progresso.



