• Carregando...
 | Giuliano Gomes/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Giuliano Gomes/Arquivo Gazeta do Povo

Em setembro de 2011, os participantes do 4.º Congresso Nacional do PT aprovaram a criação do que ficou chamado de Militância em Ambientes Virtuais (MAV). Tratava-se de montar uma “tropa de choque” de militantes com o objetivo de “ocupar” áreas de comentários de blogs e sites noticiosos, além de discussões em mídias sociais, para repetir slogans em defesa do partido e rebater o que consideravam notícias “negativas” contra o PT. Na avaliação do partido, os petistas tinham demorado muito para responder as acusações lançadas contra Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2010, e não podiam repetir o mesmo erro nas disputas municipais de 2012.

Eram outros tempos: o Orkut disputava cabeça a cabeça com o Facebook a preferência do brasileiro, ninguém falava em fake news, o Supremo Tribunal Federal só começaria a julgar o mensalão um ano depois, e o Brasil nem sonhava que o PT já havia montado um esquema de corrupção ainda maior, sangrando a Petrobras. Mas algumas coisas não mudam nunca, como mostra o mais novo escândalo de manipulação da opinião pública pela internet, o chamado “mensalinho do Twitter”.

Quando a ideologia deu lugar à defesa escancarada de políticos petistas, alguns dos tuiteiros decidiram pular do barco 

No esquema, “influenciadores digitais”, usuários com um bom número de seguidores nas mídias sociais, eram recrutados e pagos por diversas empresas para o que, inicialmente, parecia ser a difusão de mensagens e memes em defesa de pautas ligadas à esquerda. Uma postagem por dia podia render até R$ 2 mil por mês. Mas a ideologia deu lugar à defesa escancarada de políticos petistas – como a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, o senador Lindbergh Farias e o governador do Piauí, Wellington Dias –, e um aplicativo chamado Brasil Feliz de Novo, em referência ao slogan de campanha do ex-presidente e atual presidiário Lula, dava tarefas aos participantes. Foi quando alguns dos tuiteiros decidiram pular do barco e levar o caso a público. A primeira a denunciar o “mensalinho do Twitter”, a jornalista Paula Holanda, aceitou compartilhar conteúdos sobre Gleisi por considerar a pauta “justa”, mas passou a desconfiar quando recebeu a tarefa de elogiar Dias, candidato à reeleição no Piauí. O rastreamento das empresas envolvidas no recrutamento dos “influenciadores” já levou a um assessor de um deputado federal mineiro candidato ao Senado. Nenhuma das mensagens informava que se tratava de conteúdo pago.

Leia também: A guerra de informação da militância virtual (artigo de Flávio Morgenstern, publicado em 14 de março de 2014)

Leia também: Facebook: segurança da informação ou expurgo ideológico? (editorial de 26 de julho de 2018)

A Lei 13.488/2017 diz que o único tipo aceito de propaganda eleitoral paga na internet é o impulsionamento de conteúdos, em que o pagamento é feito diretamente à rede social pela coligação, partido ou candidato para aumentar o alcance das próprias publicações. A Resolução 23.551 do Tribunal Superior Eleitoral acrescenta que a propaganda nas redes sociais precisa mencionar o CNPJ do partido ou coligação que bancou o impulsionamento. Nada disso, obviamente, ocorreu no “mensalinho do Twitter”, em que o pagamento foi feito a outros usuários para que fizessem propaganda partidária paga escondendo a natureza da publicação – o tipo de prática que já destruiu reputações de “influenciadores” de áreas como moda e beleza, mas que se torna especialmente nocivo quando se trata de uma eleição.

Em julho de 2017, quando promoveu um expurgo virtual de perfis pessoais e páginas orientadas mais à direita, a rede social alegou estar combatendo “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. Com exceção da referência a contas falsas, a definição usada no comunicado oficial descreve com perfeição o esquema montado para fazer propaganda para o PT nas mídias sociais. Resta saber se as empresas usarão o mesmo critério empregado há um mês para lidar com quem recebeu dinheiro para propaganda ilegal usando suas plataformas. E se a Justiça Eleitoral vai empregar o rigor prometido contra a manipulação da opinião pública por meio da internet.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]