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| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O período de 1969 a 1973 ficou conhecido o “milagre econômico brasileiro”, expressão que passou para a história e contribuiu para gerar uma impressão que, em realidade, é falsa. A palavra “milagre” pode transmitir a ideia de que foi conquistado algo quase impossível, como é sugerido pelos resultados acima do que seria normal com os recursos disponíveis. As causas da popularização da ideia de que teria havido um milagre brasileiro foram: crescimento do PIB entre 7% e 13% ao ano; construção de ampla infraestrutura física no país; baixas taxas de desemprego; e grande expansão do parque industrial nacional, sobretudo nos setores de energia, siderurgia e petroquímica. Foi também uma época de expansão das empresas estatais e do aumento da presença do Estado na economia.

Mas o fato é que, em economia, não há milagre. O que aconteceu foi que o período do governo Castelo Branco, primeiro presidente do regime militar, teve como marca o combate com êxito à inflação, reforma tributária, reforma do sistema financeiro, reforma trabalhista, modernização da legislação habitacional e outras mudanças na estrutura econômica, abrindo espaço para um ciclo de crescimento até 1973. Findo o período do suposto milagre econômico, advieram várias consequências negativas: a crise internacional do petróleo, que de início elevou o preço do barril de petróleo de US$ 3 para US$ 12; a volta da inflação entre 14% e 20% ao ano; e o financiamento do crescimento por meio de aumento da dívida externa. O milagre foi desaparecendo já a partir de 1974.

Os próximos quatro anos poderão, no máximo, ser o início de um processo lento e demorado de melhorias

A lição mais importante, que já era tratada nos livros de teoria econômica, é que milagres não existem. Há efeitos reais de causas reais. As propostas de soluções mirabolantes, desconectadas da realidade e das possibilidades do país, são costumeiras em períodos eleitorais, quando os candidatos, na busca por votos, tentam passar a impressão de que bastam suas boas intenções e o que chamam de “vontade política” para que os graves problemas econômicos e sociais sejam resolvidos. O Brasil vive uma daquelas situações em que somente um governo com alta capacidade de planejar e executar, liderado por um presidente com estatura de estadista, com apoio parlamentar e sob um ambiente de estabilidade política, pode começar a mover a nação rumo a um futuro próspero, sabendo que o progresso será lento, penoso e com sacrifícios.

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O país acumulou tantas distorções e problemas que não existe fórmula mágica capaz de promover grande parte das soluções apresentadas pelos candidatos. Os próximos quatro anos poderão, no máximo, ser o início de um processo lento e demorado de melhorias. Entre os graves problemas estão os déficits fiscais crônicos nos municípios, estados e União; a carga tributária elevada, já no teto máximo aceitável; a dívida pública no limite e que precisa ser contida; a alta taxa de corrupção com dinheiro público; o inchaço da máquina estatal; a baixa qualidade dos serviços públicos; a falta de dinheiro para os investimentos do governo; o elevadíssimo desemprego; a terrível cifra de quase 70 mil pessoas assassinadas anualmente; metade da população sem esgoto tratado; a péssima qualidade da educação básica; a sociedade dividida sob o peso de grave crise política, econômica e jurídico-moral; além de muitos outros fatores que podem ser listados.

No atual estágio da campanha eleitoral e diante do panorama de segundo turno, o Brasil corre o risco de sair dessa eleição bastante dividido e com grande dificuldade de pacificação, principalmente com a resistência de boa parte da população em aceitar o governante eleito, ainda que este faça um aceno de paz e de união nacional. Portanto, definitivamente, não dá para esperar milagres; no máximo, um recomeço lento de melhorias, principalmente na economia, com a superação da recessão, reorganização das combalidas finanças públicas e, quem sabe, algumas reformas importantes.

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