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Editorial

Um fiapo de esperança para a paz

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Delegações da Ucrânia (à esquerda) e da Rússia (à direita) durante negociações realizadas em Istambul (Turquia), em 16 de maio. (Foto: EFE/EPA/Turkish Foreign Minister Office handout)

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Sem as presenças do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e do ditador russo, Vladimir Putin, negociadores da Ucrânia e da Rússia se reuniram em Istambul, no primeiro encontro direto entre representantes dos dois países desde 2022, quando Putin ordenou a invasão do país vizinho no que chamou, eufemisticamente, de “operação militar especial”. Não foi desta vez que as partes acertaram um cessar-fogo – a proposta feita semanas atrás pelo presidente norte-americano, Donald Trump, já tinha sido aceita por Zelensky, mas recusada por Putin –, embora ambos os países tenham se comprometido a apresentar planos para uma eventual trégua, bem como para um encontro entre Putin e Zelensky, a pedido dos ucranianos. De concreto, ficou combinada uma troca massiva de prisioneiros (mil de cada lado).

Infelizmente, a Ucrânia não está na mesa de negociações em posição de força, como seria desejável. É verdade que ela já demonstrou a Putin sua disposição em resistir bravamente, desmentindo as previsões otimistas dos russos sobre uma guerra que teria um desfecho rápido – o tipo de ilusão que potências militares alimentam há mais de um século: os combatentes que foram às trincheiras da Primeira Guerra Mundial, em julho de 1914, juravam que estariam em casa para o Natal. Também é verdade que as forças ucranianas impuseram algumas humilhações aos russos, incluindo uma incursão dentro do território da Rússia. Mas o contexto mais amplo em que se desenrola a guerra ainda é mais vantajoso para Putin que para os ucranianos.

Infelizmente, a Ucrânia não está na mesa de negociações em posição de força, como seria desejável

As vitórias esporádicas não foram capazes de reverter o domínio russo sobre vastos territórios do leste ucraniano. Além disso, as sanções econômicas, o principal meio que a comunidade internacional teria para pressionar Putin, têm sido pouco efetivas graças ao apoio de aliados da Rússia, como a China e o Brasil de Lula, que ajudam Moscou a contornar os bloqueios impostos especialmente pelas nações europeias. Enquanto isso, o presidente norte-americano, Donald Trump, ainda não cumpriu sua promessa de intensificar as sanções aplicadas por seu país caso a Rússia recusasse as propostas de cessar-fogo; isso desequilibra a balança em favor de Putin, que enxerga nessa hesitação a possibilidade de seguir com os próprios planos sem temer grandes retaliações.

Se falamos em “fiapo de esperança”, é porque o simples fato de haver negociações é um avanço, embora seja muito difícil enxergar um desfecho positivo neste momento. Putin diz querer “eliminar as causas principais do conflito”, um código para descrever a vontade do povo ucraniano de se aproximar do Ocidente, em vez de permanecer eternamente na órbita russa. A entrada da Ucrânia na Otan, por exemplo, que seria uma das pouquíssimas compensações aceitáveis pela eventual perda dos territórios ucranianos com maioria étnica russa, é inaceitável para Putin – o ideal, para os russos, seria a substituição de Zelensky por um governo dócil a Moscou. Em resumo, para a Rússia o termo “paz” não significa outra coisa que não seja a capitulação ucraniana.

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E este é o desfecho que a comunidade internacional precisa se esforçar ao máximo para evitar. Apenas os ucranianos sabem onde podem ceder e do que não podem abrir mão em hipótese alguma; mas eles precisam sentar-se à mesa de negociação com a certeza de que as democracias ocidentais estão a seu lado, dispostas a impedir que os valentões geopolíticos levem a melhor. Do contrário, estarão em uma posição frágil demais para resistir às demandas russas, e então não haverá paz duradoura, mas apenas uma trégua prolongada até que as agressões recomecem – na Ucrânia e em muitos outros lugares do mundo, da Guiana a Taiwan, que olham para o leste europeu temendo que um dia chegue a sua vez.

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