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Fachada do BC: Copom manteve Selic em 13,75%.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Por mais que o Copom estivesse enganado quando passou meses classificando a pressão inflacionária como algo temporário, acertou em cheio quando iniciou o ciclo de aperto monetário enquanto o restante do mundo seguia mantendo os juros nos mesmos níveis da pandemia. Foi justamente por ter começado a atacar a inflação antes dos demais países que, agora, a autoridade monetária teve a chance de interromper esse ciclo enquanto as demais economias seguem elevando seus juros. Na reunião encerrada na última quarta-feira, dia 21, o Copom decidiu pela manutenção da Selic nos atuais 13,75% ao ano, após 12 altas seguidas ao longo de 2021 e 2022.

Não foi uma decisão simples – pela primeira vez desde março de 2016, não houve unanimidade entre os membros do Copom, com dois dos nove integrantes do colegiado sendo favoráveis a uma nova elevação de 0,25 ponto porcentual (o presidente do BC, Roberto Campos Neto, votou pela manutenção da taxa). O placar é compreensível, pois, ainda que o pior momento da inflação pareça ter ficado para trás, com deflação em julho e agosto e chance de um novo IPCA negativo em setembro, o caminho para se trazer a inflação de volta a níveis aceitáveis segue muito tortuoso. “O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, diz o Copom em seu comunicado divulgado após o fim da reunião, e há motivos internos e externos para tal.

Com um olho nas eleições e suas consequências para a saúde fiscal do país, e outro na escalada dos juros nas economias desenvolvidas, o Copom faz uma opção cautelosa

No cenário doméstico, o Copom ressalta “a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos”. Em outubro o país saberá se, a partir de 2023, teremos Executivo e Legislativo federais comprometidos com o ajuste fiscal ou com a gastança populista desenfreada; se o impulso reformista de 2019 e esquecido em 2021-22 será retomado, abandonado ou até mesmo revertido. O Copom afirma já ter incorporado em seus cálculos parte das medidas recentes que elevam a despesa estatal, algumas das quais (como o Auxílio Brasil de R$ 600) são promessa de campanha de praticamente todos os candidatos viáveis ao Planalto, mas é impossível prever de antemão tudo o que os próximos governos sacarão da manga para estimular a atividade econômica.

O comitê deixou claro que, se a inflação não seguir recuando, “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste”. Um elemento importante será o comportamento do câmbio, já que o fato de o Copom ter interrompido seu ciclo de aperto monetário enquanto Estados Unidos, Reino Unido e zona do euro continuam elevando seus juros para conter a inflação em alta tem uma desvantagem: o capital tende a fugir das economias emergentes em direção à segurança. Uma desvalorização do real já tem o poder de trazer de volta a inflação ao encarecer produtos e insumos importados.

Com um olho nas eleições e suas consequências para a saúde fiscal do país, e outro na escalada dos juros nas economias desenvolvidas, o Copom faz uma opção cautelosa: no momento, optou por não intensificar o efeito certo que elevações da Selic têm ao atuar como freio na atividade econômica, mas não exclui a volta do aperto, em linha com sua missão principal, a de conter a inflação. O alívio definitivo só virá mesmo quando o cenário internacional for mais favorável, com o fim dos choques de oferta causados pela agressão russa na Ucrânia e pelos lockdowns chineses e com o arrefecimento da inflação global; e quando governo e Congresso, no Brasil, voltarem a desinchar o Estado e promover medidas de contenção de gastos.

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