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Serviços presenciais como restaurantes seguem crescendo como consequência da retomada de atividades presenciais no pós-pandemia.| Foto: bigstock

Depois de um primeiro trimestre ainda marcado por ondas fortes de contágio da Covid-19, com a variante ômicron, a normalização da atividade econômica mostrou que a indústria e os serviços estão ganhando força. Com elevação de 2,2% e 1,3% respectivamente, os dois setores foram os “puxadores” do crescimento de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste segundo trimestre em comparação com os primeiros três meses do ano. O número veio acima das expectativas do mercado, que deve revisar ainda mais para cima as projeções para 2022. O resultado é animador, pois vem sobre uma base de comparação que já não é tão deprimida quanto as de tempos atrás, quando os efeitos da pandemia e das medidas restritivas ainda eram intensos, e avanços significativos acabavam não passando de um retorno a patamares anteriores ao caos econômico.

O setor de serviços já tinha sido importante no desempenho do primeiro trimestre, quando cresceu 1%, para um avanço do PIB de mesma magnitude. Já o resultado da indústria, neste período de abril a junho, foi significativamente melhor que o do trimestre anterior, quando havia ficado em apenas 0,1%. Para completar a chamada “ótica da oferta”, é importante ressaltar a recuperação do agronegócio, que voltou a crescer 0,5% no segundo trimestre depois de ter recuado 0,9% nos três primeiros meses do ano, graças a fatores climáticos que prejudicaram safras importantes.

O resultado do PIB do segundo trimestre de 2022 é animador, pois vem sobre uma base de comparação que já não é tão deprimida quanto as de tempos atrás

Em outra ótica de cálculo do PIB, a da demanda, percebe-se a importância do consumo das famílias, que subiu 2,6% em comparação com o primeiro trimestre. Este número caminha lado a lado com o crescimento do setor de serviços, pois eles são parte importante do gasto familiar, e a procura vem crescendo à medida que as restrições da pandemia ficam para trás e a população tem mais segurança em sair às ruas e aumentar as atividades que incluem o contato pessoal. Ainda mais digna de nota é a elevação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), termo que designa o investimento no setor produtivo, que cresceu 4,8% neste segundo trimestre. Com isso, a taxa de investimento subiu para 18,7% do PIB. Como a Gazeta repetidamente afirma neste espaço, um país como o Brasil precisa elevar essa taxa a 25% do PIB se quiser ser capaz de aumentar substancialmente a renda média da população e se tornar uma nação desenvolvida, e a busca pelos meios para aumentar o investimento precisa estar no radar de todos os candidatos a cargos executivos e legislativos nas eleições de outubro.

Para o segundo semestre, as previsões também são de crescimento, embora a um ritmo menor. Há um cabo de guerra entre melhora no mercado de trabalho, retomada de atividades pós-pandemia e medidas governamentais como o Auxílio Brasil e a liberação de saques do FGTS, de um lado; e inflação e juros altos, de outro. No primeiro semestre, prevaleceram os fatores de aquecimento da economia, mas os efeitos do aperto monetário, que inibe investimentos, devem começar a ser sentidos com mais intensidade nesta segunda metade de 2022, embora não a ponto de anular totalmente este bom momento – mesmo porque a elevação de R$ 400 para R$ 600 no Auxílio Brasil só passou a valer neste mês de agosto, ou seja, os dados do primeiro semestre não consideram esta nova injeção de recursos na economia.

O Brasil segue na contramão do mundo desenvolvido – os Estados Unidos já estão em “recessão técnica”, definida como contração em dois trimestres seguidos; a zona do euro também flerta com o recuo, especialmente com a perspectiva de queda forte no fornecimento de energia, desdobramento do ataque russo à Ucrânia e das sanções de várias nações europeias ao regime de Vladimir Putin. A crise dos países ricos pode se juntar aos fatores internos que atrapalham o crescimento brasileiro, especialmente porque a demanda externa por produtos brasileiros diminuiria. Curiosamente, um efeito colateral benéfico seria a redução da pressão inflacionária no Brasil – mas um crescimento menor não precisa ser o preço a pagar para termos também uma inflação menor; a retomada das reformas macroeconômicas pode ajudar o Brasil a atravessar a tempestade global sem ter de recorrer a truques como os da “nova matriz econômica” petista, que começou nos dando a “marolinha” em meio ao tsunami mundial de 2008-09, mas terminou com a maior recessão da história do país.

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