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Na campanha eleitoral de 2002, destinada a eleger o sucessor de Fernando Henrique Cardoso na presidência da República, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sido derrotado nas três campanhas presidenciais anteriores, percebeu que o radicalismo esquerdista do Partido dos Trabalhadores poderia levá-lo à quarta derrota na tentativa de ocupar o cargo de chefe da nação. Foi então que, em 22 de junho de 2002, Lula publicou a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual firmou o compromisso de promover o crescimento econômico, o respeito aos contratos, a ampliação do comércio exterior, o incentivo aos negócios privados e, principalmente, a responsabilidade na gestão das contas públicas e o controle da inflação. Em certo trecho, a carta dizia que “a estabilidade, o controle das contas públicas e da inflação são hoje um patrimônio de todos os brasileiros”.
Naquela campanha, a carta foi um divisor de águas que contribuiu para a eleição de Lula. Chegando ao governo apresentando uma espécie de humildade obrigatória pela vitória e pelo fato de, pela primeira vez, um operário ocupar a Presidência da República, Lula nomeou Antônio Palocci como ministro da Fazenda e deu prosseguimento à política macroeconômica de FHC, baseada no “tripé macroeconômico” formado por superávit fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante. Pelas ações iniciais e pelas medidas adotadas, Palocci conquistou rapidamente a confiança dos agentes de mercado; elogiou seu antecessor, Pedro Malan, que houvera feito um bom trabalho como ministro da Fazenda; e mostrou que seguiria a mesma política econômica.
O PT e seus líderes acreditam que o curso dos acontecimentos pode funcionar apenas com base em suas vontades, inclusive na economia
Contando com o bom momento vivido pela economia internacional e a explosão dos preços das commodities exportadas pelo Brasil, Lula conquistou bons índices de aprovação de seu governo, sobretudo pelos bons resultados em quatro setores fundamentais: contas externas, contas fiscais, inflação e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Merecem menção os resultados positivos das contas do Brasil com o resto do mundo e a ampliação das reservas internacionais, principalmente devido ao já citado boom nos preços das commodities.
Naquele primeiro mandato, Lula não boicotou o bom trabalho levado a efeito pelas autoridades econômicas e monetárias, não criticou a gestão responsável na política fiscal, na política monetária e na política cambial, bem como não cedeu aos radicalismos que são a marca eterna do PT. A boa situação econômica foi decisiva para que Lula fosse reeleito em 2006 para o segundo mandato como presidente da República, apesar do início da construção, nos dois últimos anos do primeiro mandato, da armadura que seria a grande marca do PT e seus líderes até hoje: a corrupção em alto nível, a virulenta pilhagem das empresas estatais e a deterioração moral política. Lula foi eleito em 2006 apesar do escândalo do mensalão, que havia estourado no ano anterior, quando o deputado Roberto Jefferson disse à Folha de S.Paulo que o PT havia pago R$ 30 mil por mês a vários deputados para votarem a favor de projetos de interesse do governo.
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Ocorre que, após ter sido eleito por duas vezes à Presidência e, na sequência, ter conseguido eleger Dilma Rousseff como sua sucessora em 2010, sendo ela própria reeleita em 2014 apesar de já haver estourado o segundo escândalo da era PT, o petrolão, Lula conseguiu seu terceiro mandato na eleição de 2022, derrotando Jair Bolsonaro mesmo após ter sido condenado por corrupção e cumprido 580 dias de prisão. Julgando-se imbatível e infalível, Lula retornou raivoso e arrogante para seu terceiro mandato (o quinto do PT), com ânsia de vingança e completo desprezo pela teoria econômica, a ponto de declarar publicamente que os livros de economia estavam superados. Com isso, Lula tornou-se inimigo de prudência na política fiscal e na gestão financeira do dinheiro público. Por óbvio, sua gestão econômica estava condenada a não dar certo.
Mas não foi só Lula que mudou, e não foi só agora que o PT retornou ao desprezo pela lógica econômica, pela austeridade e pela moralidade na administração da coisa pública. Desde o mensalão, passando pelo petrolão e pelo abandono do tripé macroeconômico gestado no fim de Lula 2 e iniciado no governo Dilma 1, o atual mandato de Lula é simplesmente a revelação daquilo que o PT e seus líderes são: adeptos do voluntarismo econômico, ou seja, a crença de que não existe ciência nem teorias provadas sobre gestão pública, mas que o curso dos acontecimentos pode funcionar apenas com base em suas vontades e ideias tiradas de sua própria cartola.
O resultado desse teatro de horror na administração pública é a atual desastrosa gestão da política fiscal e seus déficits, com todos os efeitos deletérios sobre a taxa de juros, a dívida pública, a inflação e a renda – o mercado de trabalho segue aquecido, mas tradicionalmente o desemprego é o último indicador a piorar durante uma crise. As consequências são pagas pela sociedade, cujo sofrimento está refletido nos graves problemas sociais e na baixíssima popularidade de Lula demonstrada por pesquisas recentes.



