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Na última década, enquanto outras metrópoles adotaram avanços e novidades no transporte coletivo, a capital paranaense teve pouco a mostrar

No sábado passado, esta Gazeta registrou que Curitiba foi a única capital das regiões Sul e Sudeste a perder passageiros no transporte coletivo entre 2008 e 2011. O aumento do poder aquisitivo da população, vinculado às facilidades para a compra de automóveis, tira as pessoas dos ônibus; convencê-las a deixar o carro na garagem e voltar ao transporte coletivo é um desafio tornado mais difícil pela falta de inovação.

Curitiba já foi e ainda é reconhecida nacionalmente como sinônimo de transporte coletivo de qualidade; no entanto, na última década, enquanto outras metrópoles adotaram avanços e novidades, a capital paranaense teve pouco a mostrar. O metrô é uma solução de médio a longo prazo, mas os problemas do sistema de ônibus exigem respostas imediatas. O número de passageiros só voltará a crescer quando usar o transporte coletivo representar uma vantagem substancial sobre os deslocamentos de carro, e não apenas do ponto de vista econômico – em que o custo das passagens seria menor que os gastos com combustível e manutenção do automóvel.

Em primeiro lugar, o sistema deve ser confiável: o curitibano precisa da certeza de que, com o ônibus, chegará em tempo a seus compromissos sem ter de sair de casa com horas de antecedência. Pontualidade e ampla divulgação dos horários são imprescindíveis neste caso; no entanto, o que se observa são reclamações constantes sobre atrasos; para piorar, as metas de pontualidade previstas na licitação de 2010 não foram atingidas no primeiro ano após a concorrência, como informou a Gazeta do Povo em 27 de fevereiro deste ano, sem que as empresas fossem cobradas por isso.

A viagem de ônibus também precisa ser confortável – não se trata, aqui, de ter ônibus sempre vazios, mas é urgente eliminar as cenas de superlotação em ônibus e estações-tubo observadas todos os dias, especialmente nos horários de pico; hoje, é natural que o curitibano dono de um carro prefira o conforto do automóvel, especialmente após um dia de trabalho e apesar do trânsito já caótico do fim de tarde em Curitiba, pois sabe que, se recorrer ao transporte coletivo, o que lhe aguarda é um veículo superlotado no qual às vezes nem conseguirá embarcar.

Por fim, o sistema precisa se tornar mais inteligente. Em São Paulo, por exemplo, o Bilhete Único, que levou três anos para ser elaborado, permite até quatro viagens em três horas com o pagamento de apenas uma tarifa. Rio de Janeiro e Campinas (SP) têm sistemas semelhantes, mas em Curitiba a integração temporal só existe em duas estações-tubo; fora delas, a baldeação gratuita segue possível apenas nos terminais e algumas outras estações-tubo, exigindo nos demais casos o pagamento de uma segunda passagem mesmo quando a troca de ônibus não requer mais que atravessar a rua.

Sem modificações urgentes, a tendência é de que o sistema de ônibus de Curitiba siga perdendo passageiros, onerando ainda mais aqueles que não têm outra escolha a não ser continuar usando o transporte coletivo. A próxima gestão municipal precisará se debruçar sobre a questão para que a capital volte a merecer a fama de "sistema exemplar" que inspirou outras cidades, no Brasil e no exterior, a adotar o modelo curitibano.

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