A renúncia do presidente Hosni Mubarak, após trinta anos no poder, foi entendida em todo o mundo como um grande triunfo do povo egípcio. A queda do mandatário é consequência da difícil situação econômica do país, o alto desemprego, as denúncias de corrupção e abusos de poder. Também representa a insatisfação das populações de vários países árabes diante de regimes autoritários, manipuladores e pouco transparentes. Prova disso está na derrocada do regime do ditador Zine El Abidine Ben Ali, que estava há 23 anos no poder na Tunísia, há menos de um mês.
O levante popular no Egito e na Tunísia é um aviso claro das massas de que no mundo atual perdem espaço governos sustentados pelo desrespeito aos direitos humanos e às liberdades políticas e civis.
A mudança no Egito tornou-se necessária para acabar com um regime anacrônico. Mas, enquanto as negociações nos bastidores se desenrolam e ainda não é possível vislumbrar o caminho pelo qual o país seguirá nos próximos dias, torna-se urgente ter segurança de que as reivindicações dos manifestantes por democracia serão atendidas.
O exército, que assumiu os poderes no país, não pode se afastar daquilo que anunciou logo após a renúncia de Mubarak: a garantia da transição para a democracia plena. Essa garantia subentende a realização de eleições livres, as liberdades individuais e de organização e a autonomia dos poderes Legislativo e Judiciário.
Não menos importante, durante o período de transição, é o compartilhamento do poder com todos os segmentos da sociedade egípcia. O país só conseguirá sair da grave crise em que se encontra se contar com a união e a participação de toda a nação.
Não é aceitável que as Forças Armadas queiram manter-se no poder. O que se teme hoje na comunidade internacional é que o regime tenha decidido que Mubarak se tornou desnecessário e o tenha jogado para fora do barco, mas que no fundo não haja a intenção de instituir o tipo de democracia ampla e significativa a que a população aspira.
E essa preocupação tem base no fato de que os militares estão enraizados em vários setores da vida egípcia. Tanto que o governo de Mubarak era um regime com ampla participação de pessoas oriundas das Forças Armadas, do vice-presidente aos governadores.
Hoje há mais dúvidas do que respostas nos país dos faraós. Uma das contribuições dos atores que assumiram o poder é dar transparência aos seus atos. Somente com uma transição transparente, pacífica e livre o povo egípcio rumará em direção à democracia, único caminho para a construção de uma sociedade justa. Todo o mundo será beneficiado com uma sociedade egípcia democrática, na qual sua população possa participar e decidir livremente o seu próprio futuro.



