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 | Fernanda Carvalho/Fotos Públicas
| Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas

Ao encerrar o mês de setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou várias informações sobre a economia. Em face das circunstâncias do atual momento, as três mais importantes informações para o planejamento das atividades empresariais do ano que vem e para as perspectivas da economia dizem respeito ao Produto Interno Bruto (PIB), à taxa de desemprego e à taxa de câmbio real/dólar. Essas três áreas estão diretamente interligadas e o que acontece em uma afeta as outras duas, em um movimento de influência mútua entre as três.

Depois de amargar uma recessão econômica brutal, em que o PIB caiu 3,5% em 2015 e mais 3,5% em 2016, a crise deu um fôlego e o PIB de 2017 teve leve recuperação ao crescer 1%, quadro que mantém elevado desemprego, mais grave sobretudo porque a população brasileira segue aumentando ano a ano. Certo alento veio em 2018, com o PIB crescendo 1,46% nos 12 meses transcorridos entre julho de 2017 e julho de 2018. No início deste ano, a previsão mais otimista informava que o PIB do ano poderia crescer acima de 3%, taxa que foi logo revista para baixo, principalmente após a greve dos caminhoneiros, quando alguns órgãos de pesquisa falavam em crescimento de apenas 1,5%.

Governo e sociedade precisam se unir em torno da meta principal de fazer o PIB crescer

Embora o crescimento de 1,5% seja insuficiente e tímido depois de uma forte recessão, se forem considerados os efeitos da incerteza em face da eleição presidencial, essa taxa de aumento do PIB é positiva e permite concluir que, se o próximo governante estabelecer um ambiente de estabilidade política e segurança jurídica, o Brasil poderá retomar o crescimento econômico. A insuficiência do crescimento do PIB está refletida no número de pessoas desempregadas: 12,7 milhões de trabalhadores em agosto de 2018 – equivalente a 12,1% da força de trabalho, segundo dados divulgados pelo IBGE no dia 28 de setembro passado –, o que é muito alto tendo em conta que o desemprego aceitável em qualquer economia não deve passar os 5% da população economicamente ativa.

Quanto ao desemprego, vale mencionar que no pior momento deste ano, ao fim do primeiro trimestre, havia 13,7 milhões de desempregados, o equivalente a 13,1% da força de trabalho, e que, apesar de ainda muito alto, ao fim de agosto havia 1 milhão de pessoas a menos entre os desocupados. A queda na taxa de desemprego deve-se ao crescimento do PIB, mostrando que, no campo econômico, a grande meta a ser perseguida pelo vencedor das eleições é o crescimento do PIB a taxas superiores a 3% ao ano, se o país quiser elevar a renda por habitante e superar de vez a pobreza extrema. A economia brasileira tinha condições de crescer mais em 2018 e terminar o ano com taxa de desemprego abaixo dos 10%, não fosse a crise política, o baixo investimento público e privado nacional, a fuga do investidor estrangeiro e os graves déficits fiscais em todo o setor público. Parte do próprio déficit fiscal deriva do fato de que os desempregados, além de não contribuírem com impostos e com o INSS, demandam seguro-desemprego, Bolsa Família e outros gastos do governo.

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Outro efeito a ser considerado é o que acontece com a economia do resto do mundo, pois nenhuma economia é imune à realidade internacional. Como ocorreu no governo Lula, o cenário externo altamente favorável foi uma das principais causas que ajudaram no desempenho da economia brasileira e, como no governo Dilma, a crise internacional foi uma das causas (ainda que longe da razão principal) dos problemas vividos pelo Brasil. Na estrutura produtiva nacional, parte dos insumos utilizados – matérias-primas, máquinas, peças, componentes, tecnologias e serviços industriais – vem do exterior, cujos custos em reais para os produtores nacionais resultam do preço em dólar das importações e da taxa de câmbio. Quando o dólar sobe – como ocorreu nos últimos meses, em parte em função do nervosismo derivado da campanha eleitoral –, os custos de produção em reais se elevam, e isso acaba por encarecer os bens e serviços finais; a inflação sobe, o poder de compra das pessoas é reduzido e a demanda de consumo cai, afetando negativamente o PIB e o nível de emprego. O preço do dólar chegou a ultrapassar a barreira psicológica dos R$ 4 antes de cair um pouco com a perspectiva de vitória de Jair Bolsonaro. Se por um lado o dólar alto beneficiou os exportadores, por outro lado seguiu pressionando para cima os preços dos produtos elaborados com insumos e/ou componentes importados.

O fato é que governo e sociedade precisam se unir em torno da meta de fazer o PIB crescer, para melhorar o nível de emprego, acalmar os investidores, dar estabilidade ao mercado de câmbio, elevar a arrecadação tributária tão necessária para ajudar na redução do déficit público e criar condições de recuperar o crescimento econômico e o desenvolvimento social. Sem isso, tudo fica mais difícil e a crise pode se estender por tempo demasiadamente longo.

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