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Editorial

O eterno baixo crescimento

Banco Central
Autoridade monetária afirma que crescimento menor se dará por causa da taxa básica de juros ainda "restritiva". (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

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A economia nacional deve ter anos difíceis pela frente. Além da dívida pública galopante e do risco concreto de o Estado enfrentar um shutdown, projeção do Banco Central aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer apenas 1,6% em 2026, o pior resultado em seis anos. A previsão foi divulgada na quinta (18) no Relatório de Política Monetária do quarto trimestre.

O PIB não é um indicador abstrato. Ele traduz a capacidade da economia de produzir riqueza, criar empregos e ampliar oportunidades. Quando o crescimento é baixo, os efeitos se espalham por toda a sociedade: empresas investem menos, produzem menos, vagas formais de trabalho encolhem, a renda per capita cai e até o Estado arrecada menos. Números do PIB muito aquém do esperado são alerta de que o país continua incapaz de gerar expansão consistente de sua atividade produtiva, condição indispensável para elevar a renda e a qualidade de vida da população.

É inegável que o governo federal não tem feito sua parte. Em vez de fomentar investimento e proporcionar aumento da competitividade do setor produtivo brasileiro, o governo segue superaquecendo a economia com uma política fiscal irresponsável e, quem paga a conta, como sempre, são os brasileiros

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o Brasil tendo iniciado seu ciclo de industrialização nos anos 1930, o mundo começou a acreditar que nosso país entraria em fase de crescimento econômico em razão de seu extenso território e amplas riquezas naturais, desde que houvesse abertura ao comércio internacional e redução da alta dependência de suprimentos internacionais.

Apesar das dificuldades, a partir de meados dos anos 1950, o Brasil conseguiu superar algumas vulnerabilidades e teve crescimento econômico a taxas consideradas boas para a época, até os anos iniciais da década de 1970. Esse crescimento levou os meios políticos, as entidades empresariais e a imprensa nacional a espalharem a crença de que o Brasil adentraria os anos 2000 com progresso material suficiente para eliminar a miséria, reduzir a pobreza e caminhar para entrar no grupo dos países desenvolvidos. Mas não foi o que se viu. A análise dos indicadores mostra que, ainda que em alguns momentos a economia brasileira tenha obtido boas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a rigor o crescimento por habitante não foi tão expressivo quanto poderia ser.

Problemas econômicos internos, somados às duas crises do petróleo de 1973 e 1979, também puxaram a economia para trás. A taxa de crescimento médio caiu e, no início dos anos 1990, o Brasil já estava sendo visto pelo mundo como um país rico em recursos naturais, mas condenado ao atraso econômico e social. Nesse cenário, a pobreza continuou sendo grande, os níveis educacionais continuaram sofríveis, a violência urbana explodiu, a inflação explodiu e parecia incurável mesmo após cinco planos econômicos, as leis seguiam complexas e instáveis, a Justiça continuou lenta e o setor público na União, estados e municípios seguia marcado por elevada corrupção e ineficiência administrativa.

Em 1994, as expectativas começaram a mudar para melhor na esteira do sucesso do Plano Real, que conseguiu debelar a inflação alta e crônica. O cenário econômico tornou-se favorável ao Brasil, especialmente pela boa situação internacional e pela sequência de elevação dos preços internacionais das commodities exportadas. Esse ciclo de alta durou oito anos, as contas externas foram melhoradas, a dívida externa foi substancialmente reduzida e foi aberto espaço importante para melhorar as políticas de distribuição de renda.

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Aquela impressão de que o Brasil poderia ter um ciclo longo de crescimento começou a se desfazer já na primeira gestão de Dilma, que adotou uma “nova matriz econômica” baseada em estímulo ao consumo e elevação irresponsável do gasto público. Dilma foi reeleita em 2014 e os dois anos seguintes, 2015 e 2016, foram desastrosos na economia, com grave recessão que fez o PIB cair mais de 7% nesse período. Depois tivemos os governos de Temer e Jair Bolsonaro – quando a epidemia de Covid-19 derrubou as economias mundiais – e, mais recentemente, Lula, que ressuscita a desastrosa política de que “gasto é vida”.

Um governo que insiste em gastar como se não houvesse amanhã e que força a economia a rodar muito acima do seu limite obriga o BC a adotar política monetária restritiva. Como a missão do Banco Central é proteger o valor da moeda, ele reage da única forma que está ao seu alcance: elevando juros para frear a economia e, ao menos, conseguir o chamado “pouso suave”, em vez de uma nova e traumática recessão.

Ainda que a política monetária restritiva não seja o único motivo apontado para a baixa projeção do PIB de 2026 – o próprio BC cita também o baixo nível de ociosidade dos fatores de produção, a perspectiva de desaceleração da economia global e a ausência do impulso agropecuário observado em 2025 –, é inegável que o governo federal não tem feito sua parte. Em vez de fomentar investimento e proporcionar aumento da competitividade do setor produtivo brasileiro, o governo segue superaquecendo a economia com uma política fiscal irresponsável e, quem paga a conta, como sempre, são os brasileiros.

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