
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro variou 0,1% no terceiro trimestre deste ano comparado com o segundo trimestre, sendo que o melhor desempenho coube ao setor industrial e à agropecuária, cabendo ao setor de serviços o desempenho mais fraco. Vale destacar que o investimento em capital físico no terceiro trimestre ficou em 17,3% do PIB, um pouco abaixo do trimestre anterior, indicando que no acumulado do ano de 2025 a taxa de investimento geral deve ser menor que 18% do PIB, o que é baixo para um país que precisa com urgência elevar sua taxa de crescimento.
Sempre que se analisa o PIB e suas variações, é importante lembrar o conceito por trás dessa variável econômica. O PIB é a expressão monetária resultante da soma dos bens e serviços finais produzidos no ano, mais a produção dos bens e serviços intermediários (produtos que são componentes de outros produtos) e reformas de bens a ativos antigos. Os bens e serviços finais são produtos acabados e em condições de serem consumidos ou investidos, enquanto os produtos em elaboração são aqueles que estão em processo produtivo, porém não terminados dentro do próprio ano analisado.
A primeira observação a ser feita é que o aumento do PIB nos anos seguintes somente é possível se houver aumento do capital físico do país a taxas maiores que a taxa de desgaste (depreciação) deste capital físico durante o ano. O capital físico é a soma da infraestrutura física (rodovias, ferrovias, energia, portos, aeroportos, armazéns, telecomunicações etc.), da infraestrutura empresarial (prédios, máquinas, equipamentos, aparelhos, móveis, utensílios etc.) e da infraestrutura social (escolas, hospitais, postos de saúde, instituições assistenciais, clubes de lazer, prisões etc.). Quanto mais velho for o estoque de capital físico, maior será seu desgaste e menor sua capacidade produtiva, tanto pelo envelhecimento físico quanto pelo envelhecimento tecnológico.
A economia não se impressiona com variáveis que são positivas, porém sem a consistência necessária para dotar o país dos meios necessários a uma taxa de crescimento robusta em todos os anos
É o aumento do capital físico total do país que define a capacidade futura de produzir e dá os limites de crescimento do PIB. Considerando que o Brasil precisaria crescer em torno de 5% ao ano para que, em duas ou três décadas, o PIB por habitante pudesse dobrar, essa meta somente seria viável se o aumento do capital físico (taxa de investimento) fosse de 25% do PIB a cada ano. De saída, se o Brasil continuar investindo apenas 17% ou 18% do PIB, o estoque de capital físico total não será suficiente para viabilizar expansão anual e constante do PIB à taxa de 5% ao ano. O fato é que a economia não se impressiona com variáveis que são positivas, porém sem a consistência necessária para dotar o país dos meios necessários a uma taxa de crescimento robusta em todos os anos.
Além da baixa taxa de investimento (aumento do capital físico), o Brasil às vezes se ilude com o crescimento do PIB que não deriva do aumento das quantidades produzidas, mas que vem apenas do aumento de preços de seus produtos exportados. Ou seja, considerando que o PIB é uma expressão monetária resultante das quantidades produzidas multiplicadas pelos preços em dólar dos bens e serviços, sempre que os preços dos produtos brasileiros exportados aumentam, o PIB monetário da parte da produção nacional exportada aumenta. Isso eleva o PIB nominal total em dólar PPC (paridade de poder de compra), sem que o sistema produtivo tenha produzido mais.
Em relação ao desempenho acumulado da economia até o terceiro trimestre de 2025, o PIB cresceu 2,4% em relação a igual período de 2024, com destaque para a agropecuária, com 11,6%, enquanto indústria e serviços cresceram, respectivamente, 1,7% e 1,8%, mostrando que a economia brasileira ainda tem expressiva dependência do agronegócio em toda a extensão de sua cadeia, desde o setor primário até o setor de serviços, incluindo o setor de crédito e financiamento. No caso do desempenho do PIB neste ano de 2025 e sobretudo neste terceiro trimestre, os indicadores levaram a Secretaria de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda a efetuar ajuste na projeção de alta do PIB de 2025, de 2,3% para 2,2%, ao lado de um ajuste na previsão de inflação, que caiu de 4,8% para 4,6%.
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O Brasil tem grande oportunidade de expandir o PIB pelo aumento do setor de serviços, mas desde que o país consiga acelerar a importação de tecnologias estrangeiras já consolidadas nos países desenvolvidos. Vale destacar o desempenho de alguns subsetores de serviços no terceiro trimestre deste ano: informação e comunicação (6,2%); atividades financeiras, seguros e serviços relacionados (2,4%); transporte, armazenagem e correio (2,2%); atividades imobiliárias (2,0%); outras atividades de serviços (2,0%); comércio (1,4%); e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade (0,3%).
A expansão acelerada do setor de serviços é importante também para diminuir a dependência da economia nacional em relação ao agronegócio, sobretudo porque eventual queda na demanda internacional dos produtos da pauta de exportações brasileiras provocaria redução dos preços dos produtos brasileiros e, em alguns casos, redução também das quantidades vendidas ao exterior. Vale lembrar que o Brasil teve período em que a melhoria econômica somente foi possível devido à boa situação internacional e à elevação dos preços das commodities exportadas, como ocorreu nos oito anos dos dois primeiros governos de Lula, de 2003 a 2010. Mas a expansão do setor terciário (comércio e serviços em sua definição ampla) depende, como os demais setores, do velho cenário de insegurança jurídica, ambiente ruim para os negócios, alta carga tributária, reforma tributária incerta e as eternas ameaças de criação ou aumento de impostos. É a velha sina de o Brasil boicotar a si mesmo.



