
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados econômicos fechados de 2024, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,4%. Não é um desempenho em si espetacular, mas, considerando o histórico brasileiro das últimas décadas, é uma taxa razoável. O PIB é o produto anual da nação expressado em valores monetários, cujo total resulta das quantidades produzidas multiplicadas pelos preços dos bens e serviços na moeda nacional. Embora seja a medida mais importante para verificar se a população está dispondo de mais ou menos bens e serviços de um ano para outro, o cálculo do PIB apresenta aspectos que causam certas distorções no mérito das magnitudes.
O primeiro problema no cálculo do PIB pode ser verificado a partir de um exemplo. Como não há meio de somar quantidades de medidas diferentes de bens materiais e serviços, faz-se necessário atribuir a todos os produtos a mesma unidade de mensuração. Sendo assim, todos os produtos, sejam bens físicos ou serviços não materiais, são medidos na moeda oficial do país, cujo resultado é um número em reais originado das quantidades produzidas multiplicadas pelos preços correntes. As lições introdutórias de economia ensinam que é impossível obter qualquer resultado somando litros mais quilos mais serviços imateriais etc.
Um segundo problema, que provoca interpretações errôneas e indevidas, vem da situação em que, por exemplo, num dado ano há diminuição de 15% na produção física de um bem medido em toneladas, mas cujos preços aumentam 30% em relação ao ano anterior. Em termos monetários, o aumento de 30% nos preços do bem, combinado com redução de 15% nas quantidades produzidas, resulta em aumento de 10,5% expresso em valores monetários. Considerando que é a quantidade de produto que define o padrão de consumo da população e o número de empregos gerados, o simples aumento monetário do produto em questão apresenta três efeitos negativos: menos quantidade de produto para atender as necessidades da população, mais inflação (pela elevação dos preços) e menos empregos do que no ano anterior.
Fazer o PIB crescer pela via do estímulo ao consumo bancado por déficit fiscal é estratégia que traz prejuízos no longo e médio prazo
Outra situação que distorce a realidade das aparências ocorre quando o PIB cai num dado ano e se mantém estável por vários anos seguintes, sem diminuir nem aumentar, para, no último ano da série analisada, ter aumento expressivo e dar a impressão de que houve desempenho espetacular. Dizendo de outra forma, é preferível ter o PIB crescendo 2% ao ano durante cinco anos do que tê-lo sem qualquer aumento durante quatro anos e, no quinto ano, crescer 6%. A análise isolada do quinto ano provoca ilusão na ordem de grandeza da informação e leva a uma interpretação errônea sobre a robustez da economia e o desempenho anual do crescimento econômico.
Por óbvio, todo crescimento de produção nacional é sempre positivo, mas a comparação no tempo exige decompor os dados e as circunstâncias de sua ocorrência a fim de se obter avaliação inteligente e lógica sobre em que medida o PIB está efetivamente levando a progresso material e aumento do bem-estar da população. Adicionalmente, é importante realçar que os dados econômicos e sua interpretação ficam prejudicados quando são usados com a finalidade de enaltecer ou criticar governos, partidos e políticos no poder.
Dito isso, o ano de 2024 apresentou alguns bons indicadores setoriais, como é o crescimento de 5,3% no setor de serviços e 3,8% na indústria de transformação. Para esses setores crescerem, foi necessário haver aumento da demanda no consumo das famílias (que aumentou 4,8% no ano passado) e aumento no consumo do governo. Neste último ponto entrou um aspecto negativo: a parte de aumento no consumo total que se deve a crescimento do consumo do governo foi possível porque o setor público fez gastos pagando com déficits fiscais, que são cobertos com dívida pública ou emissão de moeda, o que sempre termina em elevação na taxa de juros futuros e aumento da inflação.
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Outro ponto a destacar é que expressiva parcela do aumento no consumo das famílias somente foi possível devido a programas sociais de transferência de renda promovidos pelo governo e cobertos não por arrecadação tributária, mas por déficits fiscais financiados por expansão da dívida pública, além de aumento na oferta de crédito ao consumidor. Essa situação toda não sobrevive ao longo do tempo sem causar danos à economia, principalmente os danos já citados: mais inflação, aumento na taxa de juros, elevação da carga tributária e perigoso índice de endividamento das famílias.
No meio desse cipoal de dados, não se pode esquecer que um dos impedimentos ao crescimento sustentável do PIB brasileiro é a baixa taxa de investimento em capital físico, especialmente a infraestrutura. Para crescer de forma constante a taxas em torno de 5% ao ano, a taxa de investimento teria de se aproximar dos 25% do PIB. No entanto, o Brasil não consegue levar a taxa de investimento acima dos 17% ou 18%, realidade que limita muito o crescimento futuro.
O panorama geral da economia brasileira não dá base para esperar crescimento robusto do PIB (a taxas superiores a 4% ao ano a partir de 2025) nem o retorno a uma taxa baixa de inflação; pelo contrário, as previsões publicadas pelo Banco Central por meio do Boletim Focus, preveem inflação superior a 5,5% neste ano. E, mais uma vez, o setor que pode impedir o Brasil de ter desempenho fraco em 2025 é o mesmo setor que vem sendo xingado e agredido sistematicamente por Lula: o agronegócio, que deve ter bom desempenho sob a liderança da Região Centro-Oeste.



