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editorial

Previsões acertadas

Relatório do Santander que enfureceu petistas quase um ano atrás se mostrou acertado em suas análises

No fim de julho de 2014, os clientes do segmento Select do Banco Santander (aqueles com renda mensal acima de R$ 10 mil) receberam um comunicado, que começava com a frase “a economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta corrente”. Dilma Rousseff estava em queda nas pesquisas de intenção de voto, o que “tem contribuído para a subida do Ibovespa (...) difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos”.

Quem é que não entende de economia? Analistas que identificaram com precisão a movimentação dos indicadores, ou o governo que permitiu a deterioração dos fundamentos macroeconômicos?

A análise enfureceu os petistas. “Terrorismo” foi a expressão mais usada, tanto pelo presidente da legenda, Rui Falcão, quanto pelos sites da campanha de Dilma. A própria presidente chamou o texto de “inadmissível”. Mas ninguém foi tão longe quanto o ex-presidente Lula (o que não causa a menor surpresa). Em 28 de julho, Lula exigiu publicamente a cabeça dos responsáveis. “Botín [Emílio Botín, presidente mundial do Santander], é o seguinte, querido: tenho consciência de que não foi você quem falou. Mas essa moça tua que falou não entende p... nenhuma de Brasil, e nada de governo Dilma. Manter uma mulher dessa em cargo de chefia, sinceramente… Pode mandar embora e dar o bônus dela pra mim que eu sei o que falo”, disse em evento da CUT. Ato contínuo, o banco demitiu a superintendente de Consultoria de Investimentos Select, Sinara Polycarpo Figueiredo, e outros dois analistas, em 30 de julho.

Sinara, que havia ingressado no Santander em 2006, processou o banco e afirmou, diante da Justiça do Trabalho, em dezembro do ano passado, que não teve conhecimento do comunicado antes de ele ter sido enviado aos clientes e que houve pressão do PT para que o banco entregasse sua cabeça. Mas, caso tivesse efetivamente sido a autora do texto enviado aos clientes, poderia se orgulhar de ter acertado as previsões feitas no comunicado, como bem lembrou o blog Terraço Econômico.

No fim de julho de 2014, quando o comunicado foi enviado, o dólar oscilava entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Quando Dilma foi reeleita, no fim de outubro, batia os R$ 2,50. Ultimamente, vem balançando entre R$ 3,10 e R$ 3,20, tendo chegado a R$ 3,30 em março deste ano. Os juros, aqueles que Dilma jurava que subiriam caso seus adversários fossem eleitos, também tiveram elevação: a Selic ficou em 11% até a reeleição; na semana imediatamente seguinte à vitória petista, o Copom iniciou uma série de aumentos seguidos que levou a taxa aos atuais 13,75%, sem perspectiva de redução no futuro próximo. O Ibovespa, na época do relatório do Santander, estava na casa dos 57 mil pontos; chegou aos 61 mil ainda antes das eleições e, nos últimos 30 dias, tem oscilado entre 50 mil e 55 mil pontos. Quem direcionou seus investimentos baseando-se nas previsões do comunicado teve várias oportunidades de lucro.

Diante disso tudo, é preciso fazer a pergunta: quem é que não entende de economia? Analistas que identificaram com precisão a movimentação dos indicadores, ou a equipe governamental que permitiu a deterioração dos fundamentos macroeconômicos? E há de se levar em conta que o informe do Santander não chegou a dizer uma palavra sobre a disparada da inflação, que o próprio Banco Central já estima em 9% para este ano (o dobro da meta do IPCA); e nem sobre o desempenho do PIB, que deve cair 1,1% em 2015, também na estimativa do BC (a maior queda em 25 anos).

De forma autoritária, Lula, Rui Falcão e o PT pediram a cabeça de profissionais que estavam meramente cumprindo seu papel: fornecer aos clientes informações que julgavam necessárias para que os destinatários pudessem preservar seus investimentos. A realidade dos números, quase um ano depois do informe, mostra que não havia “terrorismo” nenhum nas previsões. Mas, em vez de trabalhar para impedir a piora da economia, o governo e a cúpula petista insistiram no caminho que levou o país à recessão e ainda se viram no direito de tentar sufocar o trabalho alheio, fazendo o país pagar o preço dessa inversão de prioridades.

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