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Tanques Leopard 1 A5 em uma base militar alemã, prontos para envio à Ucrânia.
Tanques Leopard 1 A5 em uma base militar alemã, prontos para envio à Ucrânia.| Foto: Hannibal Hanschke/EFE/EPA

Em 24 de fevereiro de 2022, tropas russas cruzaram a fronteira com a Ucrânia, iniciando uma agressão unilateral completamente injustificada, motivada unicamente pelo imperialismo do autocrata Vladimir Putin, para quem a nação vizinha não deveria passar de um apêndice da Rússia, incapaz de decidir seus rumos por conta própria. Dois anos depois, os ucranianos seguem resistindo bravamente contra uma máquina de guerra muito mais numerosa e poderosa, mas ao mesmo tempo a estratégia russa de vencer pelo cansaço começa a render frutos, o que lança o mundo inteiro em uma espiral de instabilidade geopolítica que não se via desde a Guerra Fria.

Por mais que os russos, inicialmente, esperassem uma campanha rápida, a forma como a guerra como tem se desenrolado também joga a seu favor devido à enorme disparidade entre forças. “Enquanto o homem gordo emagrece, o homem magro desaparece”, disse um oficial da inteligência ucraniana à revista The Economist, citando um provérbio local. O grande problema é que, se o único desfecho aceitável para a guerra é a restauração das fronteiras pré-invasão, com respeito total à integridade territorial ucraniana, as demais opções, que não incluam a vitória militar e a expulsão das tropas russas, parecem cada vez mais distantes.

O segundo aniversário da invasão é a ocasião propícia para que as democracias de todo o mundo voltem a se comprometer com a causa ucraniana, fornecendo-lhe toda a ajuda necessária

Hoje, não há a menor possibilidade de que haja uma mudança de ânimos dentro da Rússia capaz de tirar Putin do poder e encerrar a agressão. O autocrata está tão fortalecido internamente que seu governo já trata a eleição de março como mera formalidade para manter as aparências (na tal “democracia relativa” apregoada por um certo camarada sul-americano de Putin). Ainda por cima, Putin se sente capaz de eliminar sem pestanejar seus principais adversários políticos, como acaba de acontecer com Alexei Navalny, que se encontrava detido em uma prisão remota perto da região do Ártico e teve um “mal súbito”, na versão oficial – uma autópsia independente, claro, está fora de cogitação.

O caminho das sanções econômicas, ainda que necessárias, também tem se mostrado ineficaz. Estados Unidos, União Europeia e outras nações do Ocidente livre já aplicaram sanções contra milhares de alvos russos – indivíduos, empresas, órgãos governamentais – e a lista segue aumentando, mas nem a economia russa em geral, nem o esforço de guerra em particular, acabaram estrangulados como se desejava. Os autocratas do mundo todo se uniram e têm ajudado a Rússia, seja pelo comércio bilateral direto, seja funcionando como intermediários para que Moscou siga exportando ou importando produtos e serviços para ou de nações ocidentais.

A via militar, portanto, desponta como a grande, ou talvez a única esperança de vitória ucraniana, mas sem a ajuda ocidental isso será impossível. E o prolongamento da guerra de atrito de Putin tem consequências também ao provocar rachaduras entre seus oponentes. O presidente Volodymyr Zelensky substituiu recentemente o comandante militar Valery Zaluzhnyi, em uma decisão bastante controversa, já que o general tinha a confiança da população e vinha fazendo bem seu trabalho, impondo perdas constantes aos russos, em um sinal de que a unidade inicial de todas as forças políticas ucranianas para reagir ao agressor russo está enfraquecendo.

No cenário global, o fator de instabilidade vem dos Estados Unidos, onde republicanos na Câmara de Representantes seguem travando um pacote de dezenas de bilhões de dólares em ajuda à Ucrânia, já aprovado por seus colegas de partido no Senado. Para elevar a tensão, o ex-presidente Donald Trump, possível candidato republicano à Casa Branca, reclamou que os membros europeus da Otan não estavam investindo as porcentagens mínimas necessárias em defesa e insinuou que deixaria a Europa à própria sorte em caso de agressão russa. Este tipo de isolacionismo, além de contrariar um princípio básico de política externa enunciado por um dos maiores ícones republicanos, Ronald Reagan – nunca trair a confiança dos aliados –, já custou muito caro aos próprios Estados Unidos no passado, pois mais cedo ou mais tarde os norte-americanos acabaram levados a se envolver nas duas grandes guerras mundiais.

A vitória de Putin – e por “vitória” aqui pode-se entender desde a anexação de pedaços de território ucraniano até a deposição de Zelensky e sua substituição por uma marionete do Kremlin – será a derrota do mundo livre e o mergulho do planeta na “diplomacia dos valentões”, que verão o caminho aberto para usar a força e concretizar suas próprias ambições expansionistas onde quer que estejam. Mas a Ucrânia não conseguirá resistir, muito menos vencer, se a rede de apoio montada para apoiar sua resistência for rasgada. Putin conta com isso, e inclusive tem conseguido ampliar sua máquina de propaganda no Ocidente para divulgar mentiras como sua tese da “artificialidade” da nação ucraniana. O segundo aniversário da invasão é a ocasião propícia para que as democracias de todo o mundo voltem a se comprometer com a causa ucraniana, fornecendo-lhe toda a ajuda necessária.

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