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Movimento no porto de Santos: superávit da balança comercial foi recorde em 2021, bem como a corrente de comércio.| Foto: Ricardo Botelho/Ministério da Infraestrutura.

As próximas semanas trarão uma série de dados consolidados sobre o desempenho da economia brasileira em 2021; se já é dado como certo que haverá indicadores ruins, como o da inflação, ao menos um número bastante positivo já está confirmado: o desempenho recorde da balança comercial brasileira no ano passado. O superávit de US$ 61 bilhões ficou 21,1% acima do saldo de 2020 e bateu também o recorde anterior, registrado em 2017, quando as exportações superaram as importações em US$ 56 bilhões. A corrente de comércio total – quase US$ 500 bilhões, resultado da soma de US$ 280,4 bilhões em exportações e US$ 219,4 bilhões em importações – também foi recorde; até então, o maior valor era de US$ 481,6 bilhões, em 2011.

Embora seja preciso destacar a vitalidade do agronegócio, que elevou exportações em 22% apesar das quebras de safra, e aumentos expressivos nas vendas de itens como minério de ferro, o grande personagem da balança comercial de 2021 não foi tanto um produto específico, mas o dólar. O real desvalorizado foi um estímulo às exportações, que na comparação com 2020 aumentaram 28,3% em preços, mas apenas 3,5% em quantidade, segundo o Ministério da Economia. Ou seja, em 2021 o Brasil basicamente exportou apenas um pouco mais que no ano anterior, mas a um valor muito maior graças ao dólar em alta. Com as importações ocorreu o contrário: também de acordo com os dados do governo, elas aumentaram 21,8% em quantidade e 14,2% em preços. E, se por um lado o dólar alto ajudou o exportador, por outro ele acabou encarecendo as importações de combustíveis e energia elétrica, deixando o número final da balança comercial abaixo das projeções do governo, que no início de dezembro esperava fechar 2021 com um superávit de US$ 70,9 bilhões.

A corrente de comércio brasileira ainda é baixa, tanto como porcentagem do PIB nacional quanto como participação no comércio global. O grande desafio brasileiro é ampliar sua inserção internacional

Os números, em seu conjunto, mostram como a economia mundial está se recuperando do enorme estrago causado pela pandemia de coronavírus, que freou negócios globalmente e causou interrupções em importantes cadeias de produção – um cenário que ainda persiste em alguns casos específicos, como o dos chips semicondutores, com reflexo em vários setores relevantes como a indústria automotiva e a de eletroeletrônicos. Quando a pandemia for finalmente derrotada e houver a normalização completa das atividades econômicas, o comércio internacional deve recuperar sua vitalidade – e o Brasil tem de estar pronto para aproveitar este momento.

A corrente de comércio brasileira ainda é baixa, tanto como porcentagem do PIB nacional (na casa dos 30%) quanto como participação no comércio global (com apenas 1% do total mundial de exportações e importações). O Brasil já chegou a ser apontado em 2015 como o país mais fechado do G20 e ocupa posições medíocres, incompatíveis com o tamanho da economia brasileira, nos rankings de maiores importadores (29.º lugar em 2020, segundo a OMC) e exportadores (26.º lugar) do mundo. O grande desafio brasileiro é ampliar sua inserção internacional, tornando-se um grande player do comércio exterior, aumentando a competitividade do produto nacional e reduzindo o protecionismo. Em março de 2018, relatório do Banco Mundial mostrou que uma verdadeira abertura comercial poderia tirar milhões de brasileiros da pobreza e fazer o PIB crescer quase um ponto porcentual a mais por ano.

A maior inserção brasileira no comércio global tem estado no radar da equipe econômica, mas ela esbarra em alguns obstáculos, especialmente quando os parceiros do Mercosul se agarram ao protecionismo, dificultando reduções nas tarifas. A grande conquista da atual gestão neste campo, a assinatura do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia – concluindo negociações iniciadas em governos anteriores –, está travada pela ausência de ratificação dos países envolvidos; nações europeias fazem críticas à política ambiental brasileira, mas é fato que governos como o francês também se aproveitam da alegada preocupação com a Amazônia para não irritar seu próprio setor agropecuário, pesadamente subsidiado e que sairia perdendo com o acordo. Fazer do Brasil um país mais aberto ao comércio internacional não é tarefa simples; ela esbarra em fortes interesses locais e estrangeiros, mas que precisam ser enfrentados com coragem e estratégia.

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