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Está chegando ao fim o período de "adaptação" dos motoristas à faixa exclusiva para ônibus que a prefeitura de Curitiba instalou na Rua XV de Novembro, entre a Avenida Nossa Senhora da Luz e a Rua João Negrão. São 2,5 quilômetros demarcados de forma a garantir que apenas os veículos do transporte coletivo trafeguem pela faixa. Até o fim do mês, motoristas que estiverem na faixa exclusiva serão orientados, e não multados – as principais dúvidas se referem às conversões à direita, para quem sai da Rua XV –, mas, a partir de junho, o trânsito pela faixa exclusiva será considerado infração leve. As faixas exclusivas são uma opção para uma cidade que vive o desafio de trazer mais usuários para um sistema de transporte público que já foi considerado referência e ainda hoje tem elementos copiados mundo afora, como o BRT.

Os resultados parecem animadores. Reportagem da Gazeta do Povo publicada na quinta-feira mostrou que as 12 linhas que circulam pela faixa exclusiva já apresentam redução no número de atrasos; passageiros relatam que o tempo de deslocamento caiu pela metade, dependendo da linha utilizada e do ponto inicial e final do trajeto. Com os números mostrando que as faixas exclusivas realmente ajudam o passageiro, o prefeito Gustavo Fruet anuncia a intenção de expandir o sistema para outras ruas que são importantes vias para o transporte público.

É natural que o planejamento urbano dê prioridade ao transporte coletivo sobre o individual, uma orientação que, nos últimos anos, havia ficado um pouco esquecida. Mas as decisões nesse sentido devem ser pautadas pelo equilíbrio. Em vias suficientemente largas, e pelas quais trafegam um número grande de linhas, justifica-se a destinação de uma das faixas de rolamento apenas aos ônibus – em certa medida, é a aplicação da mesma lógica das canaletas dos biarticulados em locais onde já não é possível construir pistas exclusivas. Por outro lado, não se pode adotar a implantação indiscriminada das faixas exclusivas – em ruas com tráfego de poucas linhas, por exemplo. Em São Paulo, que já adota as faixas exclusivas há algum tempo, tornou-se comum acompanhar a subutilização de algumas faixas que, pelo pouco volume de linhas de ônibus, permanecem vazias boa parte do tempo enquanto os demais motoristas se espremem em meio ao caos do trânsito. Espera-se que não aconteça o mesmo em Curitiba, o que penalizaria excessivamente os cidadãos e criaria um clima ainda mais conflituoso no trânsito, que poderia se refletir, inclusive, numa disposição contrária da população ao sistema de faixas exclusivas.

Se forem bem utilizadas, as faixas poderão no médio prazo contribuir para atrair mais passageiros para o transporte coletivo, o que traria benefícios ao trânsito como um todo, já que, com o curitibano gradativamente trocando o carro pelo ônibus, haveria menos veículos nas ruas, desafogando o tráfego. No entanto, para que isso aconteça, as faixas exclusivas são um bom começo, mas não podem ser a única medida. Os ônibus que circulam pela XV de Novembro podem estar chegando mais rapidamente a seu destino, mas, se permanecerem superlotados nos horários de maior demanda, ou passando com uma frequência que desestimule o cidadão, não são muitos os que se animarão a trocar o transporte individual pelo coletivo. Outra inovação bem-vinda seria a integração temporal, pela qual o passageiro pode trocar de ônibus sem pagar uma segunda passagem em qualquer ponto da cidade, e não apenas nos terminais ou nas estações-tubo. Enquanto cidades muito maiores que Curitiba, como São Paulo, já implantaram o sistema em sua rede em poucos anos, na capital paranaense ele ainda segue em teste, limitado a pouquíssimas linhas.

Fazer do transporte coletivo uma operação eficiente e sustentável, que não dependa de subsídios para seguir funcionando, é um objetivo louvável e que merece ser perseguido, com um estímulo positivo: não se trata de estrangular o motorista, tirando-lhe espaço até que não reste outra opção a não ser usar o ônibus (por pior que seja), mas de melhorar o ônibus até que o motorista se sinta realmente convencido de que a melhor opção é recorrer ao transporte coletivo. Que venham mais faixas exclusivas, implantadas em vias onde realmente sejam necessárias, mas acompanhadas de outras ações que recuperem o protagonismo curitibano neste campo.

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