Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Editorial

Um plano razoável para a paz entre israelenses e palestinos

trump plano paz israel palestinos
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente dos EUA, Donald Trump, em coletiva para apresentar o plano de paz entre Israel e palestinos. (Foto: Jim Lo Scalzo/EFE/EPA/Pool)

O presidente norte-americano Donald Trump divulgou, na última segunda-feira, um roteiro concreto – embora com inúmeros obstáculos à frente – para atingir a paz entre Israel e os palestinos, tendo inclusive como possível horizonte de longo prazo o estabelecimento de um Estado palestino. Embora o plano de 20 pontos tenha sido apresentado ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ele foi costurado com quase todo o mundo árabe e outras nações muçulmanas, como Turquia, Paquistão e Indonésia.

No curto prazo, a prioridade é um cessar-fogo e a devolução dos reféns levados pelo Hamas durante a barbárie terrorista de 7 de outubro de 2023. Se o Hamas aceitar a proposta e ela for colocada em prática, as forças israelenses cessarão sua campanha militar e sairão gradualmente de Gaza, à medida que certas condições forem cumpridas – o item 16 afirma explicitamente que “Israel não ocupará nem anexará Gaza”. No médio prazo, o plano prevê a reconstrução do enclave, que será administrado por um governo de transição tecnocrático formado por palestinos, supervisionado por um conselho formado por Trump, o ex-premiê britânico Tony Blair e outros líderes internacionais. Enquanto isso, os terroristas teriam de depor suas armas e renunciar à violência em troca de uma anistia, e uma força internacional treinaria uma futura polícia palestina. Se tudo correr como planejado, Gaza finalmente deixaria de representar uma ameaça a Israel.

O plano de Trump é bem mais razoável que a recente onda de reconhecimentos do Estado palestino, com um roteiro definido, que exige concessões de ambos os lados

Por fim, o plano prevê uma reforma da Autoridade Palestina, que está muito longe de ser uma unanimidade entre os palestinos, muitos dos quais a veem como corrupta – diversas pesquisas recentes apontam que a maioria dos palestinos gostaria que Mahmoud Abbas, o atual presidente da Autoridade Palestina, renunciasse. Quando o órgão tiver sido reformado, poderá assumir o controle da Faixa de Gaza – e não só isso: a essa altura, “as condições estarão dadas para um caminho crível rumo à autodeterminação e ao Estado palestino, que reconhecemos como uma aspiração do povo palestino”, diz o ponto 19.

Os obstáculos para que esse plano se torne realidade são muitos, e estão espalhados por todas as etapas de sua eventual implementação. A Autoridade Palestina já afirmou que a proposta de Trump é “bem-vinda”, mas o Hamas, cuja única razão de existir é a destruição de Israel, aceitará seu desmantelamento, ainda que seus membros possam deixar Gaza rumo a outros países, ou receber uma anistia caso abandonem o terrorismo? E, ainda que o grupo extremista islâmico bancado pelo Irã aceite os termos de Trump, a história mostra que os palestinos já interromperam negociações de paz no passado – na última dessas ocasiões, em 2008, Abbas recusou uma oferta do então premiê israelense Ehud Olmert que entregaria 93% da Cisjordânia aos palestinos. Por fim, ainda que tudo corra bem, por alguma inédita confluência muito feliz de fatores, como a agressiva política de expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia afetará a constituição de um futuro Estado palestino?

VEJA TAMBÉM:

Independentemente do que se pense sobre Trump, seu plano é bem mais razoável que a recente onda de reconhecimentos do Estado palestino. Há um roteiro definido, que exige concessões de ambos os lados – principalmente dos terroristas do Hamas, e com toda a razão, mas também Israel tem de concordar com a devolução de prisioneiros e aceitar a ideia de que, no futuro, haverá um Estado palestino, algo que Netanyahu se recusava a considerar até pouco tempo atrás. Ainda que a proposta acabe rejeitada, terá sido uma tentativa importante de não apenas encerrar o conflito atual, mas de construir uma solução duradoura. E será possível identificar com mais clareza quem realmente deseja a paz e quem ganha com a continuação das hostilidades.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.