
Ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva proclame aos quatro ventos que a economia brasileira está cada vez melhor, a realidade é bem diferente. Entre os inúmeros recordes negativos que o país acumula, o Brasil acaba de alcançar mais uma marca histórica: nunca houve tantas empresas e consumidores com contas em atraso. Os dados divulgados recentemente pela Serasa são contundentes: 76,6 milhões de brasileiros estão inadimplentes – o equivalente a quase metade da população em idade ativa. Trata-se do maior número desde o início da série histórica, em 2016, com dívidas que somam R$ 457,4 bilhões. Somos um país de endividados.
O endividamento, por si só, não é necessariamente um problema – quando bem gerido, pode ser ferramenta de alavancagem e desenvolvimento. No entanto, o que se observa atualmente é um endividamento crônico e prolongado, que compromete a saúde financeira das famílias. O percentual daquelas que afirmam não ter condições de pagar suas dívidas voltou a crescer, alcançando 12,4% – alta em relação ao mesmo período do ano passado. O cartão de crédito permanece como o principal vilão, seguido pelo empréstimo pessoal, modalidade igualmente marcada por taxas elevadas.
O resultado de políticas irresponsáveis como as do governo federal não poderia ser outro, a não ser a combinação mortal de inflação, resultado da desvalorização da moeda causada pela sandice fiscal, e juros altos, que são a reação do Banco Central para frear o processo inflacionário, já que o governo não faz sua parte
No setor empresarial, o cenário não é menos grave. Já são 7,3 milhões de empresas negativadas, o equivalente a 31,9% das registradas no país, com um total de R$ 180 bilhões em dívidas – recorde desde o início da série histórica, em janeiro de 2016. Como de costume, as pequenas e médias empresas são as mais vulneráveis. Com menor capital de giro, forte dependência do crédito bancário e pouca margem para repassar aumentos de custos ao consumidor final, esses negócios enfrentam sérias dificuldades para continuar operando. Nesse segmento, a inadimplência chega a R$ 146,2 bilhões.
Entre famílias e empresas, a inadimplência elevada não pode ser explicada apenas por desorganização ou irresponsabilidade. Ela é, sobretudo, o reflexo de um ciclo perverso: a alta de juros, embora necessária para conter a inflação, agrava a situação dos endividados ao tornar mais caro o crédito e mais difícil o pagamento das dívidas. Diante da inflação persistente, os preços sobem, o poder de compra diminui e os gastos essenciais pressionam ainda mais os orçamentos. Com isso, muitas famílias recorrem ao crédito para manter o básico – e pagam caro por isso. Para as empresas, especialmente as menores, o custo elevado do financiamento representa uma barreira quase intransponível à sobrevivência.
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Apesar desse quadro, a política monetária segue travada. Com a Selic em 14,75% ao ano – o maior nível em quase duas décadas – o crédito segue restrito, caro e desestimulante para qualquer tentativa de recuperação econômica. As previsões indicam que essa situação não deve se alterar antes do fim de 2025, o que impõe mais um longo período de sufoco àqueles que empreendem, consomem ou tentam reorganizar suas finanças.
As taxas de juros poderiam começar a cair – e aliviar o bolso dos endividados – se o país adotasse uma política fiscal séria e responsável. Hoje, o Banco Central atua quase isoladamente na tentativa de conter a inflação, recorrendo à única ferramenta disponível: o amargo remédio dos juros altos. O governo federal, por sua vez, em vez de contribuir com austeridade e reformas, opta por aumentar a arrecadação para manter e expandir os gastos. Prova disso é o mais recente pacote fiscal, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cuja principal medida foi, como já se tornou regra, um novo aumento de impostos – desta vez sobre o IOF.
O resultado de políticas irresponsáveis como as do governo federal não poderia ser outro, a não ser a combinação mortal de inflação, resultado da desvalorização da moeda causada pela sandice fiscal, e juros altos, que são a reação do Banco Central para frear o processo inflacionário, já que o governo não faz sua parte. Foi esse cenário perfeito que criou a multidão de endividados do país, que, se tudo continuar como está, vai aumentar ainda mais.
O país está, hoje, à beira de um sufoco financeiro generalizado. Famílias endividadas, empresas sufocadas e um governo que, ao invés de oferecer alívio, aperta ainda mais o torniquete. Se a responsabilidade fiscal continuar sendo tratada como inimiga do "projeto político", o país pagará um preço ainda mais alto – e por muito tempo.



