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Escândalos sucessivos de corrupção e uma economia cambaleante não foram suficientes para que os eleitores brasileiros optassem pela alternância de poder. Ontem, Dilma Rousseff foi reeleita para um segundo mandato, o que levará o PT a 16 anos no Palácio do Planalto. Se programas como o Bolsa Família, o Pronatec, o Mais Médicos e o Minha Casa, Minha Vida tiveram influência no ânimo do eleitor, não se pode descartar um outro aspecto. Afinal, tão digna de nota quanto o resultado da eleição é a maneira como ele foi obtido.

O PT praticou, nesses meses, a campanha eleitoral mais sórdida dos últimos anos. Cheios daquele "ardor apaixonado" do qual "os piores estão cheios", nas palavras do poeta irlandês William Butler Yeats, marqueteiros, candidata e, principalmente, o ex-presidente Lula se entregaram à baixaria, não pensando duas vezes antes de promover a desconstrução mentirosa dos adversários. Primeiro, com Marina Silva, que após a morte de Eduardo Campos despontou como aquela que tinha mais chances de vencer. Sua proposta de independência do Banco Central chegou a ser diretamente associada à falta de comida na mesa do brasileiro.

Com Marina derrotada no primeiro turno, foi a vez de Aécio Neves receber o bombardeio petista. Acusações de caráter pessoal e afirmações explícitas de que em seu governo os programas sociais seriam extintos se tornaram frequentes. Mas Aécio reagiu com firmeza, o que gerou uma nova onda de agressões, agora de um Lula ensandecido: como o tucano falava duro com Dilma nos debates, Lula resolveu acusá-lo de "desrespeitar mulheres" (embora Lula não tenha pensado muito em "respeito às mulheres" quanto atacou a jornalista Miriam Leitão, nem quando pediu a cabeça de uma analista do banco Santander). Na semana passada, o ex-presidente chegou a afirmar que os tucanos estavam "agredindo a gente como os nazistas agrediam no tempo da Segunda Guerra Mundial" – o que levou a Confederação Israelita Brasileira a manifestar seu repúdio. A vitória nas urnas dessa estratégia suja manda o pior recado que a jovem democracia brasileira poderia receber: a de que "fazer o diabo", como havia prometido Dilma em 2013, compensa.

Mas a vontade das urnas tem de ser respeitada, e só podemos esperar que o segundo mandato de Dilma seja melhor que o primeiro, tanto no campo moral quanto no econômico, pois o país já não aguenta mais ver os recursos públicos seguidamente desviados – aos milhões e, às vezes, bilhões – em benefício do PT e de seus aliados. E também teme a volta da inflação, acompanhada da estagnação econômica marcada pelo crescimento pífio que coloca o país na rabeira da América Latina. São justamente os mais pobres as grandes vítimas da inflação, como lembramos ontem. A presidente já havia dito que Guido Mantega, hoje motivo de piada internacional, não seguiria à frente da equipe econômica. Mas, se "Dilma é seu próprio ministro da Fazenda", como disse Delfim Netto à revista The Economist, o país só teria, no máximo, um novo copiloto, enquanto o verdadeiro responsável pela pilotagem permanece o mesmo. E, a julgar pela campanha, a presidente não parece considerar equivocado o rumo que deu ao país, abandonando o tripé macroeconômico.

Se desejamos a Dilma sucesso na tarefa de recolocar a economia nos eixos, não o fazemos por concordar com a corrupção desenfreada que grassa nos governos petistas, nem com o hábito de considerar "heróis" criminosos condenados, nem com a cumplicidade histórica do partido com as mais abjetas ditaduras, nem com o aparelhamento de estatais e órgãos públicos para transformá-los em braços do partido, nem com o ataque sistemático às instituições e liberdades democráticas promovido por pessoas como Lula ou Rui Falcão. É simplesmente por querer o bem do nosso país e por acreditar que as pessoas podem mudar para melhor. Nesse sentido, é preciso dar um voto de confiança à presidente Dilma. Que ela saiba governar com sabedoria ao longo dos próximos quatro anos, curando as feridas destes últimos meses.

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