• Carregando...
 | Nelson Almeida/AFP
| Foto: Nelson Almeida/AFP

As forças de esquerda não petistas do país estão se preparando para finalmente sair da sombra do PT e de seu líder máximo, o ex-presidente e atual presidiário Lula. Na quarta-feira, dois candidatos derrotados à Presidência, Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), se reuniram para tratar da oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL). A iniciativa foi de Ciro, e o encontro ocorreu na sede do partido de Marina. Juntos, eles tiveram pouco mais de 14 milhões de votos no primeiro turno; seus partidos terão, somados, 30 deputados federais e nove senadores. O novo bloco, apurou a Gazeta do Povo , ainda poderia contar com o PSB e até o PCdoB, que formou chapa com o PT nas últimas eleições. Isso deixaria o grupo com 69 deputados, contra 56 petistas.

Já que não conseguiu realizar sua ambição de liderar novamente o país, por meio do preposto Fernando Haddad, Lula insiste agora em ser o grande nome da oposição, mas a verdade é que o PT afastou de si todos aqueles que um dia já foram grandes aliados. Em 2014, os marqueteiros de Dilma Rousseff já haviam jogado sujo contra Marina na campanha do primeiro turno, quando a então candidata do PSB avançava nas pesquisas de opinião: anúncios na televisão vinculavam a independência do Banco Central, uma das plataformas de Marina, ao sumiço da comida na mesa do brasileiro.

O PT afastou de si todos aqueles que um dia já foram grandes aliados

Quatro anos depois, Lula manobrou de dentro da cadeia para sabotar a candidatura de Ciro, conseguindo a neutralidade do PSB. No segundo turno, o PDT declarou “apoio crítico” a Haddad, mas Ciro não fez nenhuma manifestação nesse sentido – ao mesmo tempo em que se colocou abertamente contra Bolsonaro, também disse que jamais voltaria a fazer campanha para o PT. Da mesma forma, Marina falou em “voto crítico” em Haddad e rejeitou o voto em Bolsonaro. Encerrado o pleito, terminou também essa união frágil entre o petismo e as demais esquerdas brasileiras.

Também o PCdoB se mostra ressentido. Lula ainda havia pressionado o partido para que Manuela D’Ávila desistisse da candidatura à Presidência para ser uma “vice do vice”. E, embora Haddad e Manuela estivessem sempre juntos, os estrategistas do PT preferiam colocar em primeiro plano a mulher de Haddad, Ana Estela. A presidente do PCdoB, Luciana Santos, reclamou de “falta de respeito” e disse que Manuela foi “abandonada, escanteada, jogada para segundo plano, sub-aproveitada”; por isso, a legenda também buscaria se juntar ao novo bloco de oposição.

Leia também: O PT na oposição (editorial de 30 de outubro de 2018)

Leia também: Haddad esconde os crimes do PT (editorial de 24 de outubro de 2018)

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Ciro fez críticas a Lula e à incapacidade do PT de assumir os crimes de seus chefes. “Quero fundar um novo campo, onde para ser de esquerda não tem de tapar o nariz com ladroeira, corrupção, falta de escrúpulo, oportunismo. Isso não é esquerda. É o velho caudilhismo populista sul-americano”, afirmou. De fato, essa característica do PT é apenas um dos fatores que tiram do partido qualquer legitimidade moral para ser uma força de oposição.

Como já afirmamos, o Brasil ganha com a existência de uma oposição de esquerda comprometida com a democracia, com a ética na política, com o respeito à dignidade humana. Se o PT não faz a menor questão de cumprir esses requisitos, insistindo até o fim na defesa dos seus “guerreiros do povo brasileiro”, o bloco que está sendo costurado por Ciro e Marina pode assumir o protagonismo, mas apenas se mostrar firmeza na intenção de não repetir o lamentável roteiro traçado pelo petismo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]