Enquanto Nigéria e Irã maltratavam a bola na Arena da Baixada, no primeiro jogo da Copa do Mundo em Curitiba, um espetáculo bem mais deprimente ocorria no Centro da cidade: vândalos depredaram fachadas de quatro agências bancárias e uma estação-tubo, picharam ônibus, bloquearam cruzamentos derrubando lixo nas ruas e ateando fogo aos detritos. Depois do vandalismo verificado em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Fortaleza, no dia da abertura da Copa, não houve novos episódios de violência, alimentando a esperança de que a capital paranaense tivesse um dia marcado apenas pela festa dos torcedores. Esperança essa que foi frustrada pelos black blocs.
A covardia mascarada era parte de um grupo maior, de 300 pessoas, que iniciou sua manifestação na Boca Maldita, e de lá seguiu na direção da Arena da Baixada. Já nessa etapa, os manifestantes desrespeitaram o direito de ir e vir dos curitibanos e torcedores incendiando lixo no cruzamento da Avenida Visconde de Guarapuava com a Rua Desembargador Westphalen. Chegando ao bloqueio policial nas proximidades do estádio, os black blocs pediam "paz" paz que, a julgar por suas ações posteriores, quando voltaram ao Centro pela Avenida Marechal Floriano Peixoto, não estavam dispostos a proporcionar.
O estrago foi bem menor, se comparado a outros quebra-quebras acontecidos em Curitiba, especialmente o que destruiu parte do Centro Cívico em 21 de junho do ano passado. Isso ocorreu graças à ação da polícia, cuja Tropa de Choque dispersou os vândalos assim que eles começaram a destruir as fachadas dos bancos. No total, 14 pessoas foram detidas 12 adultos e dois adolescentes e a polícia, sabiamente, agiu de forma pontual, identificando e retirando os vândalos, evitando, assim, que a depredação se tornasse pancadaria generalizada. Há muito dizíamos que, caso se limitasse a presenciar o vandalismo, a polícia estaria encorajando novos casos semelhantes. Na segunda-feira, a polícia agiu, e soube fazê-lo de modo a não agravar a situação; agora, espera-se que os responsáveis pelo quebra-quebra efetivamente paguem por sua agressão aos direitos dos demais, pois a impunidade também alimenta o fascismo black bloc.
Ainda assim, é possível aperfeiçoar a ação policial. O coronel Milton Fadel, responsável pela operação da PM na Copa, disse à Gazeta do Povo que havia menos policiais que manifestantes quando começou a depredação, e também por isso não foi possível impedir que eles seguissem pela Marechal Floriano. "A partir do momento que a tropa de controle de distúrbio civil chegou, deu tudo certo", afirmou. De fato. Mas que das próximas vezes não seja necessário esperar as primeiras fachadas destruídas para agir. O ocorrido anteontem será um aprendizado valioso para os próximos três dias de partidas em Curitiba.
E, além de ressaltar a ação policial, é preciso louvar aqueles que souberam se manifestar sem recorrer à violência. Na mesma Boca Maldita de onde partiu o grupo de black blocs, ativistas do movimento LGBT protestaram pacificamente contra as políticas de perseguição a homossexuais verificadas tanto no Irã quanto na Nigéria. Mesmo o "aquecimento" para a manifestação da tarde foi tranquilo, com música e debates perto do Relógio da Rua XV. Com os holofotes do mundo voltados para a cidade em dias de jogo, nada mais natural que os mais diversos grupos queiram deixar claras suas reivindicações. Os protestos pacíficos dão o exemplo; que a Copa possa prosseguir, em Curitiba e no resto do país, sem novas agressões à democracia e aos direitos do restante da população.
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