Quando entramos hoje em qualquer livraria renomada, é comum que a prateleira dos livros de autoajuda seja uma das mais frequentadas. A cada ano que passa, livros dessa categoria são buscados com avidez maior. Os motivos podem ser muitos, mas uma coisa é certa: esses consumidores não estão bem. Multiplica-se o sentimento de baixa autoestima. Paira no ar uma sensação de frustração existencial e de engano. As pessoas parecem estar buscando soluções para problemas que não sabem definir ao certo, tampouco sua origem. Sou da opinião de que precisamos entender melhor a diferença entre a boa autoestima e a verdadeira humildade.
A boa autoestima é apenas um sentimento. Nasce do âmbito da psicologia. É um sentimento positivo sobre si mesmo. Já a humildade é uma virtude moral. É muito mais que um estado de ânimo: é fruto do conhecimento e da aceitação interior das qualidades e defeitos de cada um.
Infelizmente, seja por pura ignorância, seja por um sentimentalismo disfarçado, alguns educadores exibem atualmente um medo excessivo de mostrar a verdade no mau comportamento de seus pupilos. Devido a uma mistura de sentimentos de culpa com receios de contristar na correção, preferem convencer os educandos de que não têm defeitos, de que o importante é serem espontâneos e fazer aquilo de que gostam.
Parece, portanto, que o mais saudável e eficiente é educar tanto na humildade quanto na autoestima. Ambas podem ajudar o jovem a enfrentar-se e a enfrentar os desafios da vida. Uma pessoa pode ter sentimentos de autoestima elevada por ter boa aparência, apresentar bons resultados acadêmicos ou esportivos, possuir dons artísticos invejáveis etc. Neste caso, o aprendizado da virtude da humildade ensinando que esses diferenciais são dons "emprestados" que devem ser utilizados para o serviço aos outros, por exemplo contribuirá para "baixar a crista" do privilegiado. Por outro lado, há pessoas que exibem atitudes erradas de humildade, como um exagerado desprezo por si mesmo, seja porque não são muito sociáveis, por terem claras limitações intelectuais, encontrarem-se em uma situação financeira difícil etc. Nessa situação, um apoio e incentivo no sentimento da boa autoestima, através de elogios aos trabalhos escolares ou de pequenas iniciativas positivas no ambiente familiar, por exemplo, poderá estimular essas pessoas a esquecerem-se de si mesmas e a não ficar preocupadas com sua imagem perante os demais.
É preciso revelar ao jovem desde cedo que dentro de si vive um déspota que o escraviza. Ele o déspota exige desde pequeno, de forma desmedida, a satisfação das necessidades, gerando um enorme amor por si mesmo e um desprezo pelos demais. Esse déspota só se enfraquecerá quando deixarmos de alimentá-lo demais e de estimulá-lo tal como ocorre hoje, e quando passarmos a alimentar de forma mais justa o amor aos outros. É preciso desmascarar as falsas regalias de uma vida "independente", de uma vida sem compromisso, dos sonhos de uma vida solitária e de uma vida abastada, que lhe exige o "déspota" e a cultura materialista e tirânica do momento. Somente quando tivermos em nossa vida pessoas a quem amamos mais que ao "déspota" será possível libertarmo-nos desta escravidão. Como é fácil verificar esta dinâmica do amor nas famílias numerosas ou em uma comunidade na qual reina o serviço generoso e abnegado!
João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ.



