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A prefeitura de Curitiba anuncia uma novidade: vai começar a testar neste mês sistemas eletrônicos de controle do Estacionamento Regulamentado (EstaR), visando a substituir os tíquetes de papel implantados já há mais de 30 anos. A intenção é permitir que os usuários recorram às modernas facilidades proporcionadas pelos celulares e tablets para marcar seus tempos de utilização das vagas e fazer os pagamentos, também eletronicamente, via compra antecipada de créditos ou de débitos automáticos em conta bancária.

Cinco empresas se inscreveram para desenvolver aplicativos com tais funções e, após testes de seleção, uma delas será a escolhida. A primeira a ser submetida ao experimento, em algumas ruas do Centro Cívico, é a israelense Pango, que já implantou seu software em outros países, incluindo os Estados Unidos. Noventa dias após o término do período de testes que lhe foi dado, outras empresas serão chamadas a fazer suas respectivas demonstrações, até se chegar ao modelo mais adequado às peculiaridades de Curitiba e de seus usuários.

Trata-se de um avanço importante na medida em que tenta recolocar a cidade na vanguarda das soluções urbanísticas, status que conseguiu alcançar a partir da década de 70, quando implantou sistemas viários e modelos de transporte coletivo – casos das canaletas exclusivas para ônibus expressos e integração de linhas que permite diversos deslocamentos com uma só passagem, com conexão em terminais – que passaram a ser imitados no resto do mundo. Entretanto, após a primeira onda de inovações, que prosseguiu até os anos 1990, Curitiba se mostrou incapaz de se manter à frente.

Mais, no entanto, do que não conseguir manter o processo de evolução, Curitiba chegou a retroceder em várias das funcionalidades que já haviam sido implantadas. Exemplo desse retrocesso foi o descaso na manutenção da semaforização automática nas linhas de ônibus expressos. Ao voltar no tempo, passou a obrigar os ônibus a paradas nos sinais vermelhos, reduzindo drasticamente sua velocidade média e obrigando, ao mesmo tempo, a colocar em serviço mais expressos para atender à mesma demanda de passageiros – fatores de encarecimento das tarifas e, consequentemente, de incentivo ao uso do transporte individual. Ou a repressão, ainda que brevíssima, aos aplicativos que permitem encontrar e chamar o táxi mais próximo, isso em uma cidade que foi a pioneira no uso das centrais de radiotáxi.

E, ainda que a tecnologia seja um componente importante da inovação urbanística, não é o único – mesmo porque o gestor precisa ter consciência de que, apesar da popularização dos smartphones e tablets, ainda há uma parcela importante da população que não os usa. Exemplo de novidade que não depende dos mais recentes apetrechos tecnológicos é a implantação das vias exclusivas para ônibus em ruas de maior movimento, que comentamos neste espaço há alguns dias.

A chave, aqui, é investir para que as novidades não sejam apenas pontuais, mas façam parte de uma cultura de inovação que envolva toda a cidade. Há muito a ganhar, especialmente nas questões relativas à mobilidade urbana e ao transporte coletivo. Curitiba já vem testando há anos, em um ambiente muito restrito, a integração temporal, que permite ao passageiro usar mais de um ônibus pagando apenas uma tarifa, sem a necessidade de recorrer a um terminal ou estação-tubo para a conexão. Cidades muito maiores que Curitiba, como São Paulo, já adotaram esse sistema para toda a sua rede de ônibus.

Quando houver uma cultura de aproveitamento da tecnologia e da busca por soluções urbanísticas que facilitem a vida do cidadão, Curitiba poderá outra vez entrar na história por demonstrar que é capaz de recuperar e de manter sua capacidade de inovar.

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